quarta-feira, 27 de julho de 2022

O dia que ainda é possível.

 O dia que ainda é possível.


Ai ela acordou, nao sentia dores nao sentia fome nao sentia frio.

Ouvia vozes, barulhos como de uma bomba de encher pneus, que fazia um barulho, parava fazia outro barulho, parava...

De repente as vozes chegaram perto, queria ver, mais os olbos fechados nao abriam, queria falar mais nao conseguia.

Ao longe um barulho de sirene, as vozes mais perto, queria se mover, queria saber o que acontecia. 

De repente lhe veio a memória, sua casa, seu quarto, a luz da manha pela janela, que balançava as cortinas, o barulho das asas do beija flor, em busca da agua que sempre mantinha logo acima das azaleias que floriam o ano todo, o cheiro da manha, a prece que ouvia pelo celular depois que tomava o remédio e depois o frio a tosse a garganta seca e o medo. 

Mais uma vez quis falar, quis saber o que acontecia ...

As vozes agora chegam nítidas, alguem peďe pra aspirar o tubo, limpar as secreções, consertar o travesseiro, calcar o braço, depois veio um barulho de porta se abrindo, alguem queria saber o que tinha mudado da manha ate agora.

Dez dias e simplesmente o quadro nao mudava, nao existia nem melhora nem piora o pulmão infectado, o coração estava ali tranquilo pulsando calmo ...

Então ela realmente acordou, mesmo nao conseguindo abrir os olhos, queria falar queria perguntar pelos filhos, pelo netos, queria dizer que estava ali, queria respirar sem aquilo que incomodava sua boca, sua garganta, aquilo que forçava sua lingua..

Ja tinha vivido aquilo já, tinha sentido aquele momento de nao ter ação de só ter o pensamento rápido vendo passar sua vida suas alegrias e seus sonhos. 

Mais agora ela tinha medo, da outra vez ela nao teve tempo de pensar, mais agora tinha tempo de ter medo de se sentir só e de se sentir presa a cama ao tubo..

Sim ela estava num CTI , estava querendo viver, estava querendo correr pra casa, queria correr pra chuva, 

queria andar descalça por ai, mais estava ali, presa nos braços de uma doença que tinha mais força , tinha mais folego, e todo o ar que lhe faltava ...

O monitor mostrava que o coracao estava num linha reta e o bpm de 60 fazia com que aumentassem as falas, as manobras e assim sem poder dizer nada sem poder olhar pra ninguém ela se foi ...

No dia seguinte pela manhã enquanto o beija flor se alegrava com a agua na janela, o telefone tocou, depois de 10 dias sem visitas, sem carinho e sem chance alguma ela se foi.

Para aqueles que ela sempre amou só restou as orações distante e a gratidão pela vida e nem um carinho em se despedir .

Enquanto isso no Planalto, um presidente desvairado,.com um sorriso de iena saltando muitos perdigotos espalhava virus e afagos...


Solange Mendes

Escrito em 2020