Depois de muito caldo minha fome nao caiu bem .
E estou aqui fazendo um caldo de batata com carne moída e taioba que aprendi a apreciar numa madrugada fria do hospital João XXIII.
Sou de aproveitar o bem que tem em qualquer lugar, como o frango assado com pão e coca cola na funerária que fui voluntaria, comprar um brinco que estava na orelha de quem estava velando uma pessoa onde eu estava...
Nesse dia do caldo de taioba eu estava acompanhando uma amiga que havia tentado suicidio...
Ja assisti a inumeros partos, pequenas cirurgias, ja levei um amigo que bebeu tanto que esqueceu que tinha alergia a camarāo e, numa festa comeu, deu choque alérgico e tive que ir com o sujeito pro hospital ...
2 anos depois fui chamada as 2 horas da manha, o sujeito bêbado novamente comeu uma empadinha de camarāo e minha amiga, esposa dele, recém parida, me ligou e tive que pegar um taxi em Santa Tereza atravessar a cidade apanhaŕ o tonto e levar pro hospital.
Dessa vez ele não tava bonito... só o bafo de cachaça, a camisa aberta de tão inchado, parecia que ia explodir e de braço dado comigo... eu apavorada com medo de ser vista com aquela criatura.
Aquele hospital tem historia comigo e, assim se deu o que vou contar aqui:
Tenho uma amiga que guando a barra pesa pro lado dela, ela quer morrer...
Quando nova, certo dia quase cai de cima da ponte do rio Jequitinhonha de tão desesperada que fiquei, quando soube que ela tinha tentado suicidio, anos depois já aqui, um amigo dela me ligou desesperado que ela estava entre a vida e a morte.
Nem sei como cheguei lá, o motorista de táxi nao sabia se corria ou me acudia.
Entrei pela casa adentro e com ajuda do amigo dela levamos pro taxi que nos levou ao hospital.
La na urgência, ja entraram com ela, enquanto eu fazia a ficha, era submetida a uma lavagem gástrica (enfia uma sonda pelo nariz e suga o que a pessoa engoliu depois aplica, acho que é soro, e aspira ate tirar tudo) aquele liquido preto a medida que saia era despejado num balde e ela apagada...
Chorei, rezei e ela ali sem se mover, até que lá pras tantas da madrugada, abre o olho meio grogue e me vê do lado, me pergunta onte estava, o que aconteceu, expliquei que estavamos no hospital, eu em lágrimas no maior carinho do mundo sem nem saber o que dizer...
Enquanto eu estava ali, ainda preocupada, aparece uma moça servindo um caldo numa vasilha descartável bem pequena...
Peguei duas, minha amiga que quase não se movia olhou e pediu um pouquinho, resolvi colocar um pouquinho na boca dela, ela engoliu, quis mais, tomou a dela e a minha, pediu mais, fui atrás da moça peguei mais duas, uma pra ela que estava fraca e uma pra mim que nem havia experimentado; ela tomou a dela e a minha... no final, como não consegui mais encontrar a moça e ela continuava querendo comer, sai olhando quem tinha pegado e nao tinha tomado; consegui 2 vasilhinhas ela tomou todas e graças a Deus dormiu.
Enquanto ela dormia, fiz planos de conseguir a receita daquele caldo que só senti o cheiro.
No dia seguinte ela teve alta e eu mais tranquila quando cheguei em casa liguei no hospital, falei que estava gravida e com desejo daquele caldo, me deram a receita que faço até hoje.
Minha amiga, de outra vez tomou mais um tanto de remédio e desse vez eu nao estava boa da coluna pedi a Tadeu meu marido pra ir ficar com ela no hospital, lá ele passou a noite e quando melhorou comeu tudo que viu pela frente como da outra vez.
Anos depois, ela fez a mesma coisa só que ai um namorado da época, a levou pro hospital...
Ela ta sumida de mim,
espero que ela apareça e se vier vai morrer de rir quando souber que eu contei isso aqui, pois ela sabe que no dia depois de ter quase morrido, com o tanto de comprimidos que tomou, eu que fiquei querendo matá-la pela gula de tomar 6 porções de caldo de taioba e nao deixar eu tomar nenhum e nessa tentativa de morte ela que quase me matou de fome e de raiva ...
Nessa minha amiga sempre faltou juizo, mas sobra gargalhadas quando estamos juntas.
De vez em quando ela some de mim sem motivo, quando aparece diz que eu sou doida e que sempre me defendeu quando diziam que eu era doida.
E por essas e outras eu continuo gostando de minhas amigas mesmo quando a doida tem que ser eu!