Se aqui se faz aqui se paga, tô pagando ..
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Quando menina, lá em Valadares, corria léguas de qualquer remédio, e imagina injeção.
Tinha pavor de qualquer coisa que furasse, brincos, exame de sangue...
Aliás, brinco, não vi furar minha orelha, exame de sangue ninguém fazia, a não ser quando já estava pra lá de Bagdá e injeção, só tomei já adulta e com força nas pernas pra correr...
Lembro que quando estudava lá na Escola Estadual Israel Pinheiro, chegou o período da vacinação e de começar a correr da dor.
Tinha uma que era uma agulhinha furando o braço, outra que era injeção, dizem que tinha uma gotinha que não me lembro, e o famigerado revolverzinho, aquele que me fez criar sebo nas canelas!
Lembro-me de todos os gritos, choros e desespero que tive, quando um dia apareceu aquele povo pra vacinar, sai em disparada e só parei no pé do Morro do Carapina, quem conhece Valadares sabe a distância.
No dia seguinte fui, puxada pela orelha e tomei a danada.. .
Anos depois, lá em Itaobim, quando já estudava no grupo novo, chegou a campanha de vacinação...
Meu Deus! Faltei à aula, cheguei atrasada e não teve jeito!
Mandaram fazer fila, eu despistando pedi pra beber água, depois falei que ia ao banheiro e quando perceberam minha esperteza e meu medo, não vi outra saída a não ser correr... Desesperada, pulei o muro e ganhei o matagal que tinha depois do ginásio, de lá dei a volta e só parei pra descansar no jardim...
Voltei pra casa sem o material escolar e no dia seguinte despistei, só levando uns livros, matei aula e quando vi as amigas vindo, fui saber quem tomou, se doeu e que dia iam embora...
No dia seguinte fui pra aula, sentei aliviada, ouvindo as historias de dor e coragem dos colegas, eu tranquila, nem percebi e em uma determinada hora quando a professora fechou a porta e lá estava o sujeito da vacina Deus tomou conta. ..
Os corajosos me cercaram, os medrosos também e eu, mussungada, tomei minha dose. Gritei tanto, esperneei e chorei tanto, que no final fiquei até com vergonha de tanto escândalo por tão pouca dor...
Ao longo dos anos, doei sangue dezenas de vezes, doei plaquetas, que fura os dois braços, e há muito tempo faço auto-hemoterapia, tirar sangue não é problema, mas injeção no braço, aí é que o mundo acaba!
Sempre soube dos benefícios da vacina, não ter paralisia, não morrer de meningite, não ter catapora, que era um tanto de bolhinhas que enchiam de pus, doía, fedia e ainda ficava com manchas no corpo e a cara ficava bexiguenta. Tive um tio que deu até no olho e ele ficou cego...
Quando criança, que acreditava em tudo, e os benefícios das vacinas eram verdadeiros, corri, pulei muro, gritei, esperneei pra me livrar, desse cuidado, e agora tô aqui pagando pecado..
A Covid chegou e o pavor da doença também!
Distante, de máscara, a mão ficando até puba de tanto sabão e álcool gel, aqui estou, sonhando com a cura, sonhando com a vacina e tendo pesadelo com esse incravado que todo dia aumenta nossa dor e piora nosso medo!
Não tem seringa, não tem gelo e não tem vontade.
Ainda diz que, se bobear essa vacina além de não me livrar da doença, pode me transformar em jacaré, ou qualquer outro bicho morto nas queimadas, que podem se apoderar de mim...
Meu Deus! O povo faz arminha, o presidente não se importa. O povo morre, ele faz chacota, dá vivas à cloroquina, à ivermectina e vacina, a minha vacina, que ele dificulta e não faculta, tomo na testa, no glúteo, no braço, na barriga, tomo!
Viro qualquer bicho, só não quero virar Bolsonaro. Se tiver o risco de virar esse bicho, prefiro continuar correndo, pois essa vacina eu não tomo!
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