quinta-feira, 7 de novembro de 2019



A estrada continua longa ...


Meu pai tinha caminhão e o país era pequeno pra nos, levou muito cristal pra zona franca de Manaus, trouxe muito lenço de seda pura, levou muito “arara” pra construir Brasilia e muitos pra trabalhar em São Paulo.
O primeiro perfume importado que usei veio da zona franca assim como algumas bonecas que vieram de São Paulo. Viajei muito com ele e de manha cedo quando acordava sempre em algum novo lugar o café já fumegava numa cozinha improvisada que levava de carne de charque do norte a Martha Rocha de Valadares.
Na carroceria, por muito tempo carregava Bida, uma cabra branca da cara preta de olhos mansos, leite farto e doce que nos mantinha quando pequenos e que é o único leite que consegui gostar e que tomo ate hoje!
Esse caminhão quando não tinha frete também servia pra passear pelas praias do nordeste, carregar os andarilhos que enchiam as estradas ( ate o dia que o caminhão tombou machucou uma meia dúzia e uma carona especial que estava na boleia rasgou a boca num corte profundo e ele coitado além de ter ficado apavorado com a feiura do que viu, teve de correr do fragrante, mais pior do que tudo isso, foi esconder de minha mãe que era uma onça no ciúme). Nossa família era muito unida por essa s aventuras, pois além dos caminhos desbravados, eu e meus irmãos conhecemos coisas que a maioria nem sabia que existia .
O primeiro telefone conheci em Brasília o artesanato de barro mais bonito foi do mercado ver o peso em Belém, as cestinhas de palha os alfenins e as buchadas da feira de Caruaru, as tapiocas de coco e bananas da terra fritas de Vitória da Conquista na Bahia, andar de bicicleta gigante em Paquetá...
E numa dessas, ficamos deitadas tanto tempo numa rede meu pai carregar, que minha mãe entrou em trabalho de parto, minha irmã acabou nascendo e ele bravo por isso, jogou na porta da fabrica a carga de rolos de papel pra jornal que na cabeça dele foi a causa do parto antecipado, minha irmã Soraia nasceu esse dia e essa historia era bradada aos quatro cantos por ele..
Com meu pai e esse caminhão aprendi a valorizar a liberdade e o vento no rosto aprendi a olhar a estrada nas datas especiais e ter certeza que alguma novidade estava chegando pra nos fazer feliz, no Natal no dia das crianças no meu aniversario e nas férias quando me deixava em Itaobim na ida e me pegava na volta.
Na transamazônica ficou atolado por dois meses e na tribo dos índios do Xingu ficou e quando voltou com as fotos das índias do peito de fora fez minha mãe esquecer o ciúme contando dos ensinamento do pajé, da cachaça de mandioca e de Darcy Ribeiro que conheceu aprendendo como ele os mistérios do povo da mata.
Com meu pai aprendi a respeitar e admirar os caminhoneiros por sua coragem , importância e sacrifício, depois por um tempo moramos na beira da rio Bahia onde as historias engrandeciam a minha e agora com essa greve, vejo, entendo e os aplaudo pois o Brasil só funciona porque esses homens com coragem e solidão fazem um trabalho que mantem nossas vidas com coisas levadas e trazidas do Oiapoque ao Chui com chuvas , com sol, atolando ate hoje na transamazônica 

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