quarta-feira, 27 de maio de 2015

Do São João a Miami só é preciso coragem!

Do São João a Miami só é preciso coragem!
Quando pequena eu tomava leite de cabra.
Meu pai acostumado as delicias nordestinas nos ensinou desde cedo que leite de cabra era mais gostoso e mais forte .
Pra garantir minha robustez ele carregava uma cabra amarrada na carroceria do caminhão e em qualquer lugar, Bida, esse era o nome dela, tinha leite fresco e quente pra me alimentar...
Depois quando comecei a estudar ela também se acomodou na nossa casa, que tinha um quintal que ia de uma rua a outra, com pés de manga, figo, goiaba, urucun e uma horta que só tinha couve, toda tarde meus irmãos levava a cabra pra pastar, enquanto eu tentava pegar girinos, num córrego sujo que tinha na beira da linha férrea, pra ver se viravam sapos.
Parei de viajar com meu pai por volta dos sete anos, pra estudar, pois ninguém entrava na escola antes disso e você passava esse tempo solto na vida, só por conta de brincar e sonhar.
Meu pai tinha um caminhão que era pau – de- arara, a estrada era nossa casa, no caminhão além da lona que cobria e os bancos de madeiras onde as pessoas se sentavam, não podia faltar um fogão e tudo que uma cozinha precisava.
Rapadura, farinha, feijão carne de sol, banha de porco e vontade de minha mãe fazer comida em qualquer parada, muitas vezes fomos à Brasília levar trabalhadores pra serem contratados pra trabalhar naquela que hoje é a capital do país. A primeira vez que fui, o moço que contratava os trabalhadores, por não ter lugar no alojamento, nos levou pra um hotel que também estava tendo uma reforma feita por ele e ali pela primeira vez, tive contato com as beneficias de quem tem dinheiro .
A noite minha mãe ligava e pedia o jantar, chegava o garçom com uma sopa que antecedia o jantar, eu e meu irmão, nos fartávamos de comer, de chegar a ter congestão de tanta barriga cheia, pois o gosto era bem diferente das gororoba feita nas estradas e alem da comida boa, conheci e aprendi a telefonar ali, toda hora eu tinha alguma coisa pra falar na recepção....
Passar por São Paulo era doer o pescoço de tanta curiosidade, vendo aquele amontoado de gente e aqueles prédios que nem eu nem meus irmãos tínhamos coragem de subir, minha irma nasceu lá.
No Rio de Janeiro, o mar com aquela onda que corria atrás da gente, me faz ter medo dele até hoje, pois meu pai, com os parentes de minha mãe que lá moravam, só diziam que a onda levava, que a maré derrubava e eu que nunca que ia arriscar, lá também nasceu uma irmã e outros em vários lugares...
Viajar por dias e dias não era das melhores coisas a fazer, mas só percebi isso depois, quando fincamos os pés em Valadares.
Lá andar de bicicleta, ouvir falar da América e estudar fez uma grande diferença na minha vida, ir a programas de auditório, foi um passo pra começar a cantar na radio Educadora e Por um Mundo Melhor que quase me fez ser cantora.
No Natal ganhava bonecas da Estrela, bicicleta, até um acordeon ganhei um dia, tinha muita diversão e liberdade, muitas alegrias com carnavais no Ilusão, desfiles com carros alegóricos que enchiam os olhos e o coração de orgulho e mais ainda, quando minha irmã foi destaque.
Mas mudar de mala e cuia pra Itaobim de um dia pro outro, me fez parar de sonhar e viver uma realidade que só depois de estar bem longe me fez ter alguma saudade.
Sentia falta de muita coisa, me tiraram a boa escola, os amigos, televisão, música, livros e festas, mas logo me adaptei a falta de tudo e comecei a brincar de boi com maxixe, de cozinhadinha, de subir nos pés de manga, de coco, de comer frutas do mato, de pescar com minhoca tirada da terra, de lavar roupas com as lavadeiras do Hotel, de arear as panelas com areia e mato, de fazer sabão com soda, de matar galinhas, matar passarinhos com estilingue, redar na beira do córrego, engolir piaba viva pra aprender a nadar, matar e cozinhar cobra, participar dos sambas em mãe Nora, dançar nas festas juninas de Dé Rodrigues, correr atrás do boi de janeiro, ser pastorinha nas folias de Reis, tomar cachaça quente em Guiomar Ferraz, comer as comidas esquisitas de Canjira, atravessar a ponte de bicicletas com as mãos soltas, jogar o material escolar de cima da ponte no quintal de Julao e descer correndo pra buscar com medo dele e planejar durante dias uma descida de bananeira pelo córrego São João.
Foram tantas aventuras que quando paro pra pensar nem eu acredito, por isso escrevo pra não esquecer...
Numa das vezes em que fomos descer nas bananeiras não consegui descer a tempo e como não sabia nadar cheguei ate o rio Jequitinhonha as amigas de aventura gritaram e um canoeiro conseguiu me tirar de lá, mas se por um momento eu tivesse lembrado dos amigos de Valadares, ia dar um safanão no canoeiro, seguir boiando e quem sabe chegar até Miami, nadar eu nunca aprendi, mais coragem eu tinha de sobra!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A DONA DA SAIA...

                                                            A DONA  DA SAIA...

Tenho uma Irma que reside há quatro anos nos Estados Unidos e contaminada pelo consumismo, tem a deliciosa mania de enviar-me presentes. Tudo da melhor marca, com preços fora da minha realidade brasileira, de classe média.
Bem, em uma das vezes que eu e minha filha, também beneficiada, recebemos a encomenda veio uma saia super moderna, de marca famosa e trazia junto o preço, nada mais nada menos que $ 175, isso mesmo, só cento e setenta e cinco dólares! Esse valor todo destinado a uma saia reta, presa à cintura por poucos prendedores pequeninos e que deixa a mostra as pernas até a altura do joelho.
Eu, mulher moderna, dona da própria moda, adorei a saia. A estréia ocorreu numa bela manhã de outono, quando vesti uma meia calça azul-bebê. Ao perceber que não combinava com os tons marrons da saia, colocou por cima uma outra meia calça preta com furos nas nádegas e nas pernas. Não me pergunte o porquê guardar uma meia nesse estado, no mínimo era diferente. Vestida com as meias, coloco a linda saia, uma blusa preta de manga comprida e por fim as botas para compor o visual.
Como era dia de semana, fiz meu trajeto normal, sai de casa cantando, com a bolsa de lado e segui a pé em direção à sede do IPSEMG, onde trabalho. Subi a Av. João Pinheiro como se fosse a Fifth Avenue, avenida famosa lá na região da minha irma. Segui cantando, bem feliz e imponente com a saia nova, bem na minha, me achando...
Próximo ao Detran, antes de atravessar a rua Aimorés, fica um feirante, vendedor de água de coco, pedaço de abacaxi, laranja descascada, pipoca, bala e chicletes. Está ali todos os dias, é um senhor já com seus 60 anos, sério e muito concentrado no trabalho. Eu que seguia bem distraída, não observei que este senhor insistia para falar comigo, continuei caminhando com sentido a praça da Liberdade. O senhor chamava, gritava assoviava e eu   nada.
Ao esperar um carro passar na travessia da rua Aymorés, fui surpreendida por um vento bem frio nas pernas...Gelei porque não senti a saia no corpo. Nesse instante, o senhor que gritava foi alvo da minha atenção. Virei  para trás e vi sem querer acreditar,  que ele, logo ele,  sacudia nas mãos a saia americana, a saia bonita e cara...Escutei:
- Dona, dona a sua saia, dona! Ó aqui a sua saia!
Eu voltei xingando todos os nomes não apropriados para este texto, com as pernas cobertas por aquela meia calça toda furada, em meio a Avenida João Pinheiro por volta das 13:00h, horário em que os homens enchiam as ruas em torno do Detran. O senhor sem conseguir disfarçar o sorriso tentava me ajudár:
- Dona, entra no carro pra vestir a saia...´
Pode entrar aqui na kombi...
- Que entra no carro o quê!? Me dá logo esta saia aí!!!
Nesse tom bem desaforado, como se o senhor fosse o culpado, eu tomei a saia das mãos dele, vesti ali mesmo e segui para o meu trabalho. A princípio com a cara bem emburrada, mas à medida que ia chegando à praça da Liberdade, o mal humor foi dando lugar a gargalhada...
Sentei na calçada e ri até cansar lembrando o visual horroroso que ficou exposto, a bunda coberta por uma meia preta toda furada e um fundo azul bebe ...
Esse senhor, que está lá no mesmo lugar, toda vez que eu passo, morre de rir, viramos amigos e ele conta para todos os clientes que param por ali a estória da dona que perdeu a saia...A única que não acredita é a esposa dele, que o acusou de safado e sem-vergonha por inventar uma estória como essa:
     - “Onde já se viu, uma mulher perder a saia!”
 Mas ele não liga, é só parar alguém que ele começa... “Eu que pensava que já tinha visto de tudo não imaginava ver uma dona perder a saia e ir embora. Ah! Se eu não grito...”


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Cabelo, cabelo, cabeluda,descabelada ...

Cabelo, cabelo, cabeluda,descabelada ...
Cabelo pixaim, bombril, bosta de rola,duro,liso,escorrido,seco,oleoso,ralo,cheio.
fino,grosso,crespo,cabelo,cabelo cabelo! Quer saber, na outra encarnação, se tiver um pedido a fazer, não me importo de ser feia, bonita, alta,, baixa, gorda, magra, branca, preta ...
Eu quero é ter cabelo bom!
Tenho uma amiga que tem salão que sempre me dizia curta e grossa, o melhor pra esse cabelo é tesoura, pois esses dois fios não passam daí .Uma vez me indicaram num salão, fazer hidratação pra aquentar o sal e o sol , quando voltei, queriam que eu fizesse outra, porque voltou ressecado e quebrado, ai fiquei P, pois nessa brincadeira só pra passear na praia gastei quase trezentos reais, fora os cremes e xampus especiais que tive que levar, supitei com essa dependência de ter cabelo assim ou assado que fui pro espelho e o cortei, tão curto que não tinha nem como pentear, era só lavar e passar a mao e ele ficava lá de um único jeito, eu perdi o rumo, me sentia esperando alguma coisa, depois eu vi, era o cabelo crescer, virar coque, rabo, trança, ficar desgrenhado...
Quando nova lá em Itaobim tive uma amiga que tinha um cabelo tão duro que ela entrava no rio e ficava aqueles pingos d’água brilhando ao sol, pra molhar tinha que ficar submersa, senão não molhava, de tão ruim que era .Um dia a mãe conseguiu um pouco de azeite de oliva com meu avô que era português e passava pelo menos uma vez por semana um pouco que colocava numa colher e amornava na lamparina, o cabelo foi crescendo se soltando, ate virar uma trança que batia na bunda, falo que o cabelo dela foi domado no azeite, hoje, depois das escovas definitivas deve sacudir ao vento lá pras bandas de São Paulo.De pequena, lavava meus cabelos com qualquer sabão, quando adolescente que veio a vaidade faltou dinheiro, então o maximo de gasto que me permitia era um sachê de creme rinse, daqueles rosinha que vendia em qualquer farmácia ou venda, tinha que dar pra duas lavadas, pareciam uma vassoura, tipo Gal, Elba Ramalho, Maria Bethania , hoje sei que aquela aparência riponga era falta de salão e produtos bons no mercado.
Uma vez passei Wellim e o bicho ficou tão liso que caia tanto no olho que tive que cortar uma franja e quando passou o efeito fiquei mesmo que ver aquele cantor chamado Ovelha...
Depois dessa proeza, um dia, andando de motocicleta com Nego de Rufino, descobri que o vento nos cabelos os deixava lizinho, pronto passava o dia inteiro querendo andar na garupa ou com a cabeça pro lado de fora de qualquer carro, em tempo de ficar sem a cabeça... Agora que posso comprar, esse cabelo aqui não fica barato não, tenho certeza que se tivesse juntado todo dinheiro que gastei com salão, bons cremes, óleos,pra antes durante e depois, daria pra dar a volta ao mundo. De Finesse, Kerastase, Payot, Aussie, Moroccanoil, Elseve, Tressemme, Pantene, Avon, Natura, Boticário, Phytoervas, Loreal, Dove, creme de tudo que é preço e marca, não faltou um !
Vendo Gisele Bundchen outro dia falando do BB Crem da Pantene, corri a primeira farmácia comprei e fui toda feliz pra falar com aquela minha amiga do salão, ela do alto de seu conhecimento capilar foi logo falando, ‘’Ela “ nasceu com aquele cabelo, qualquer coisa que ela passar,até titica de galinha, o cabelo vai brilhar, balançar e ser lindo, mas esse seu, só nascendo de novo, isso é em outra encarnação !
É, se não é pra chorar, graça eu não achei nenhuma, mas minha afilhada que mora em Teófilo-otoni me pediu outro dia que mandasse Yamasterol , um creme pós enxágüe que custa 2.90 reais mandei e comprei um pra mim, pois acreditem ou não, foi a melhor coisa que meu cabelo já viu , daqui pra frente dentro da minha humildade, vou parar de ostentar com ele e voltar as coisas simples, pois depois desse produto o que me lembro que fez bastante diferença foi a água de Nova York, eu nunca tive um cabelo tão bom, como quando estive lá ... .
E se um dia souberem que me mudei pro Azerbaijão podem ter certeza, foi a água boa pros cabelos que me levou tão longe, porque se descobrir que a água de lá é boa pro cabelo, vou e não olho pra traz, me nego a esperar uma nova encarnação pra ter lindas madeixas !
E como insiste aquela amiga, quem nasce pra Gabriela ....

Com ou sem, sorrir é o melhor remédio!

Com ou sem, sorrir é o melhor remédio!
Quando tinha dez anos numa das viagens com meu pai fomos parar em Caruaru .
Na maior feira que eu tinha visto, entre farinhas, verduras, frutas e vários animais pra corte, fiquei sem rumo de tanto aromas e cores...
Menina, eu só queria uma boneca, uma bolsa de palhinhas colorida e comer alfenins que são bichinhos branquinho, feito de cana de açúcar.
Minha mãe comprava tudo que via pela frente, meu pai tomando uma Pitú e comendo uma buchada de bode numa das muitas barracas de comida só dizia a minha mãe pra achar as dentaduras ...
É minha gente na feira de Caruaru tinha varias dentaduras expostas a sol e chuva, as pessoas experimentavam ali mesmo, se desse certo isto é se encaixasse levavam...
Meu pai queria comprar uma, não sei de onde ele tirou que sabia o tamanho da boca de seu Ananias um velho amigo lá de Valadares, que era o seu braço direito .
Depois me lembro lá de Itaobim, numa eleição um amigo nosso, candidato a vereador saiu distribuindo umas dentaduras que um protético fez e como não pegaram nem pagaram, passou a ser trocada por voto, só que no dia, muitos dos “sortudos” que haviam comprometido o voto pra não perder a oportunidade de ter dente de novo, demoravam a chegar na zona eleitoral, o candidato com medo de perder, correu pras casas dos eleitores, as criaturas com a boca inchada, mal podiam falar e acabaram sem condição de manter a palavra, ele ainda insistiu que tirassem a dita e fossem , com medo de ficar sem o "presente" ninguém atendeu, ele como não pagou nada por elas só perdeu a eleição.
Passado um tempo, pelo menos uns dez tiveram sorte, o encaixe ficou perfeito, o sorriso largo durou por muitas eleições, pena que o “benfeitor” desistiu e não puderam pagar o voto.
Mas voltando o assunto, uma amiga casou, o marido morava e trabalhava em são Paulo e ela ficava em Itaobim.
Todo ano ele chegava abonado, comprando e pagando tudo, ate acabar o dinheiro, ai começava a beber, encher o saco, ate que os parentes dela faziam uma vaquinha e ele voltava pra são Paulo, sendo que toda vez que ia, ela ficava grávida, assim tiveram 8 filhos e enquanto por lá ele estava, cá a família tinha que acudir ela e a prole.
De tanto engravidar e a cada gravidez piorando os dentes teve que tirar todos, ficou uns 4 anos banguela e ele no mesmo batidão indo e vindo...
Uma vez cheguei, ela toda feliz foi me ver e claro mostrar os dentes e mais um menino que nasceu , rimos, conversamos, ela contou das dificuldades do casamento, pois as brigas constantes e a intromissão da família em nada ajudava pois ele não mudava ...
Dias depois ele já planejando a volta e ela preocupada pois a família tinha dado um cheque mate, ou ela se separava ou eles não ajudavam mais...
Meses depois quando chegou, ela mesmo triste e saudosa, ouviu a família, e acabou o casamento. Ele, revoltado mandou uma carta, que eu só acreditei porque ela me deu pra ler, com muita saudade e mágoa ele dizia, que ela estava dando importância aos outros e que não mais o queria, por isso, não era justo, ela ficar rindo com os dentes que ele lhe deu e que trabalhou muito pra pagar....
Achei um absurdo e falei que mais gastos ela teve, por ter que cuidar só, daquele monte de filhos de não se cuidar e blá, bla, bla !
Não adiantou nada meu pitaco, antes de vir nós encontramos, ela pendurada de meninos me deu um abraço morrendo de rir, logo percebi, tinha devolvido a dentadura !
Uns dois anos depois, quando chego e vou descendo do ônibus, vejo o casal, com dois dos meninos numa bicicleta, me cumprimentam aos gritos pois desciam ladeira da estrada de Jequitinhonha, ela aponta o guidão e com um sorriso cheio de dentes de fora a fora, toda feliz, grita toda orgulhosa :
Olha o presente que ganhei !
Uma coisa eu sei, se não fosse o dinheiro de São Paulo, muita gente não tinha sido feliz !

Eu e eu mesma

                               Eu e eu mesma

No dia internacional da mulher eu faço um carinho a minha mãe, mulher especial que me faz especial, na minha vida escolhida e vivida por mim.
O melhor de mim e dedicado a cuidar de mim mesma e   dos meus .
Sempre gostei da minha casa e hoje dou graças por ser  do lar, gosto de ficar em casa de cozinhar, limpar casa, fazer o que meus filhos meus netos e meu marido gostam de comer, fazer sacolao, supermercado, de ficar. de pernas pro ar .
Gosto de levar e receber café na cama, gosto de meus filhos e meus netos sujando a casa e enchendo a pia de pratos sujos.
Gosto do meu bisneto correndo pela casa, cantando alto, dançando comigo e dormindo placidamente do meu lado quando o Vô viaja...
Gosto das manhas por volta da hora que meu olho abre, que pode ser sete, nove ou meio dia e vejo ou a chuva ou o sol pela janela .
Ligar o som no talo e cantar de Raul Seixas  a Rolling Stones juntando a Amy Winehouse e rir de mim por alguma bobagem que fiz ou que fizeram comigo não tem preço.
Meu dia é todos os dias, pois sempre  faço o que me faz bem, sou desapegada de quem e do que me faz mal, do que me faz triste.
A minha vaidade nos batons penduricalhos e cheiros não me tira  a simplicidade e a gratidão que carrego pela vida .
Tenho orgulho de mulheres que fizeram diferença na minha vida, muitas deixaram saudades .
Orgulho e gratidão por  D. Fia, parteira lá de Itaobim  que fez os meus partos e  varias outras mulheres que admiro por sua coragem e perseverança em  cuidar de seus filhos e delas mesmas, buscando caminhos pra seguir a vida, sem perder os sonhos a alegria e a vaidade.
Orgulho de minhas irmãs, que como eu  saíram a nossa mãe, de minha filha e minhas netas e de   minhas sobrinhas ....
É,  só não tenho orgulho da nossa falta de união em torno das coisas que só nos dizem respeito.
O aborto precisa ser legalizado pra mulheres que por ventura precisem interromper uma gravidez pra que não acabe presa por denuncia de um medico babaca como aconteceu ha poucos dias  em um hospital de São Jose dos Campos quando uma moça de 19 anos  vai também responder a um processo alem de ter que pagar uma fiança de mil reais.
É inadmissível  nos dias de hoje, ouvir do deputado Eduardo Cunha que esse projeto só será votado passando por cima do seu cadáver, é muita petulância, querer decidir o que faremos com nosso corpo .
Já fiz um Aborto,  numa clinica particular com toda segurança  possível , não me orgulho desse feito e menos ainda quando  levei pra um hospital uma conhecida que tentando um aborto sofreu uma hemorragia que se  não tivesse socorro  teria sangrado ate a morte pois precisou de varias transfusões de sangue, uma outra la em minha terra tomou uma tal de buchinha paulista que não só sangrou, como morreu de infecção .
Não sou a favor de aborto como também não sou a favor de muita coisa, mas creio que qualquer criatura precise de um atendimento humano independente de achar que o que fez é certo ou errado .
Portanto, tenho certeza que a proibição sempre foi pra quem não pode pagar e a lei só prende pobre, como nesse caso que citei acima.
Vamos nos unir , nos proteger e exigir tratamento humano de prevenção e de cuidado para no caso de precisarmos .

O que tive pra mim é o que todas merecem, pronto falei!  

Sono da paz

                                         Sono da paz


Vendo hoje a noticia da morte de Zé Wilker, fiquei imaginando o susto da namorada e a gozação que ele deve ta  fazendo ...
Ele era bem humorado, gozador e mesmo tomando um susto de acordar do lado de lá não deve estar perdendo a piada .
Ao longo da vida já vi vários tipos de morrer e alguns como a minha sobrinha que foi assassinada é um pesar muito grande, pois dá a impressão que se não fosse a maldade do assassino ela ainda estaria aqui, com sua juventude e  alegria,  já com filhos correndo pelo quintal .
Já vi amigos, que tiveram mortes acidentais com carros, motos, atropelamentos, quedas em casa, coisa ate simples que os fizeram subir mais rápido.
Conheço amigos que perderam entes queridos por suicídios e isso, acredito é  o maior pesar, você ser próximo, amar a pessoa e não conseguir tirar a tristeza que lhe acaba o viver, ter que se conformar com a  dor da impossibilidade de evitar e nada ter  podido  fazer
Tenho perdido pessoas queridas de uma forma pesada,  dolorida, sofrida e extenuante, com doenças que dilaceram o corpo e a alma delas e de quem esta em volta e nada pode fazer...
Há  pouco me despedi de uma pessoa querida e o que vi era tão devastador que em nenhum momento dava pra imaginar uma dependência e uma fragilidade tão grande, que  transformou sua beleza e vigor  em  uma  situação   de tanta fragilidade, que era como se devagarzinho ela se estivesse diminuindo para se tornar invisível, talvez nessa pequenez a dor doesse menos e a morte não a alcançasse....
Hoje com essa morte que falei acima me lembrei de varias outras assim,  me lembro de um dia quando tive um choque anafilático, que quando ouvi a gravidade do meu momento e me segurei na fé, me desprendi de mim, me colocando nas mãos de Deus, depois quando acordei, tive certeza, que morrer era como fechar os olhos e dormir, só que quando você acorda e eu acredito nisso, você não esta mais aqui.
Assim contei pra minha mãe e assim um dia ela me falou, morrer é um piscar de olhos e a qualquer minuto, o seu sonho aqui, já não será contado e sim compartilhado com os outros de lá .
As mortes súbitas, inesperadas não nos exige preparo, não nos força a por a responsabilidade em Deus e nos santos para eles resolverem o que é melhor,  já que quando nos deparamos com um final triste e sofrido é o que fazemos.
As mortes não anunciadas alem do torpor do susto nos faz sempre questionar qual foi o ultimo gesto em que pensou o que podia ser dito ou feito, se  surpreende, mas nada a de se fazer , nada se faz ...
E os amigos,  os entes queridos que agora estão num processo de doença e dor, em que finda a  esperança de um longo viver, ainda nos resta  um tempo, pra  carinho, atenção e gratidão numa visita, num telefonema, numa prece  .

Bom seria, se todos, ao invés de dores e sofrimentos saísse de cena dormindo em paz, profundamente e um anjo num farfalhar de asas nos conduzisse para o amor e a luz de Deus!

Sonhos possíveis

                                           Sonhos possíveis

Quando tinha catorze anos, me mudei pra Itaobim, já tinha alguns amigos "lá do outro lado", que conheci durante as ferias, e como todos dali íamos pegar "picula" no córrego São João, 'redar' , descer nos pés de banana, aprender a fumar ...
Assim eu comecei a ver a vida, aprender a me virar e comecei a sonhar !
Quase sempre, quando passava pra ir pro córrego, ou de lá voltava, tinha uma "casinha de enchimento", que morava uma casal e varias crianças, a mulher quase sempre estava grávida, os meninos pelados ou de calção ou calcinhas, correndo em torno da casa, atras das galinhas, do vira-lata ou dos porcos, o marido, esse era especial vinha de cocava na porta da cozinha, sem camisa com uma calça amarrada com "embira", ela trazia um copo de alumínio com água, tirada do pote, que estava coberto com um pano bem alvinho, ele então dava um sorriso banguela e saia com a enxada nas costas, lá continuava ela nos seus afazeres . Um dia pedi água e pedi pra entrar e ver a casa , era toda branquinha, pois era limpa com "picumã", na sala tinha um banco e o pote sempre coberto, na cozinha o fogão de barro e latinhas de sardinha e goiabadas bem areadas penduradas na parede que eram reaproveitadas pra enfeitar e pra comer, as panelas de barro e a prateleira forrada com papel de embrulho picotado nas pontas, o quarto tinha uma cama de varas e um colchão de "paina", umas duas mudas de roupas penduradas e era só !
Adorei aquilo ali, com marido e tudo, isso se tornou meu sonho de futuro e por muitos anos na vida, quis aquilo pra mim, os meninos correndo, aquela casinha ...
Agora, anos depois, estou aqui em casa, ouvindo Roberto Carlos cantar Eu te amo, eu te amo, eu te amo,o Rei continua o mesmo, embalou meus pais com essa musica e agora eles a curtem no céu, nesse apto de oitavo andar, nas minhas panelas de barro cozinho um tatu, tomo uma pinga pra comemorar o dia, que já começou com uma chuvinha boa de ficar na cama, com o "Cara" tipo da musica do Rei, me trazendo um café na cama, bem da roça, que era bata- doce cozida, ovo cozido, pão com queijo quente, café com adoçante, afinal não tenho mais catorze anos ...

Ai me  pergunto, como não ser feliz?



Meus amores de Setembro

                                      Meus amores de Setembro

Nas manhas de setembro  eu passei a ter mais flores e mais alegria desde que Taty e Pola nasceram.
Minha vida e meus dias, ficaram mais ensolarados e mais feliz com eles, depois vieram os filhos deles,  mais ai é outra historia.
Eu nasci em Teófilo-Otoni,  meus pais estavam passando por lá, quando eu quis nascer, D Bolachinha que era parteira, foi quem me segurou num parto tranqüilo e sem dor . 
Nas duas gravidez  continuei levando a vida sem me preocupar com barriga crescendo ou o tamanho dela, subindo nos pés de  coco e nos de manga, andando de bicicleta, e tentando aprender a fazer o enxoval de bebe.
D. Fia de Manezim, parteira de mão cheia, com sua generosidade e competência fez meu parto em casa, rodeada do carinho e dos cuidados da minha mãe e  dos meus irmãos, alem dos gritos do papagaio que insistia em gritar minha por minha irma.
Meu trabalho de parto, demorou de duas da manha as quatro  e meia, entre uma contração e outra eu comia farofa com carne de sol e  café pra dar sustança e fortalecer o corpo, mas também  acendi  uma vela pra Nossa senhora do Bom Parto, pra garantir a fé e me dar uma boa hora.
Meu irmão que estava vindo da festa de  noivado de Olga e Marao, já batizou a losna,  empolgado com a primeira sobrinha e nervoso, tentava a todo custo me fazer cantar o refrão de uma musica de Gilberto Gil pra espairecer...
Não sabendo que amamentado também engravidava  no ano seguinte já mais preparada chegou Póla, nasceu sem grande alarde, pois da primeira vez fiquei meio insegura ,não sabia nada e um pouco nervosa, bem que eu chorei um pouquinho....
Minha vida tem muita historia e vitorias, meus filhos são as vitorias em carne e osso, saudáveis, verdadeiros, generosos, honestos e carinhosos, com todos.
Se eu pudesse voltar atrás só não  ligaria as trompas e teria mais filhos, uns dez pelo menos e teria que ser  em casa,  como foi com os dois e assim eu seria mais feliz .
Já estive ao lado de muitas na hora do parto,  vi nascer filhos de amigas e de mulheres que não conhecia, que nunca mais vi, sempre  tentei passar o carinho e a grandeza desse momento como D Fia fez comigo, sou grata  de coração e sempre que posso digo isso a ela.
Agora sem  meu  pai e  minha mãe, tomo  uma taça de vinho e   brindo  a eles e a todos que de alguma forma me ajudaram a  chegar  ate aqui, pois minha com  minha vida igual a  rapadura que é doce mais não foi mole,  me lambuzei na doçura e a dureza comi  pelas beiras sobrevivendo as fofocas, maldade e ingratidão e cá estamos os três, meus filhos, seus filhos,  meus amores .. .
Que Deus abençoe nossas vidas  todos os meses do ano,  pois independente de ser setembro, sou mais feliz todos os dias com os presentes que Deus e a vida me deu e que eu amo  !

Sempre é dia de Natal!

                                            Sempre é dia de Natal!


To aqui sobrevivendo ao Natal , as compras, ceia e saudade . Comendo peru e pernil requentando para aquecer as idéia e poder agradecer e agradecer...
To com saudade de um tanto de gente, daqui de longe e de muito longe, saudade do Natal lá de casa, quando ainda tinha Pai, Mãe e os irmãos todos, não que fosse grande coisa estar todos juntos, mas como o que se perde é que dá saudade, to aqui vivendo e agradecendo a minha !
Ter vivido muitos Natais também faz você ter muitas lembranças e continuar tendo esperança, esperança de como Dona Cano que depois de 105 anos aqui,resolveu dar alegrias aos de cima, eu também quero ter muito Natal, muito final de mundo e muita ceia pra me empanturrar. Feliz Natal pra todos que conheço, pra todos que de alguma forma passaram por mim, nos tempos de Globalização da vida e dos sentimentos a minha preguiça não mais me deixa ir ao correio postar um cartão pra desejar isso, também não quero postar o que outros escreveram e assinar como se fosse meu, procuro ao longo dos anos de vez em guando ligar pras pessoas que gosto, falando alguma coisa boa, perguntando como esta, contando ou convidando pra alguma coisa boa, faço da minha vida uma comemoração diária e convido a participarem dela, como nem sempre dá, saibam que o meu desejo é que todos continuem com muita Fé na vida, nos outros e acima de tudo em Deus, pois entendi depois de tudo, que ser resili ente te traz paz, alegria e harmonia em tudo, pois com ela podemos compreender a nossa vida, a dos outros e seguir adiante todos os dias sem precisar que chegue o Natal pra sentir, desejar e querer ter paz.
Pros amigos de casa e do coração, para aqueles que pouco sabe de mim e ate pros bicos, que é o que tem demais em redes sociais,um beijo no coração , Fé e Feliz Natal sempre!


Sei decidir em quem voto.

                                                Sei decidir em quem  voto.

Hoje fui ao hospital visitar uma amiga. Quando ofereci pra que ela viesse ficar na minha casa depois da cirurgia, ela com um sorriso largo agradeceu o carinho e falou que não queria dar trabalho, pois minha casa estava sempre cheia...
Realmente, há muitos anos minha casa sempre estava acomodando alguém que veio para tratamento de doença, procurar trabalho, estudar, lugar para morar ou simplesmente conhecer BH...
Há uns tempos que as coisas melhoraram e dos pouco que aqui estavam e acolhiam os que de lá chegavam, viramos muitos. Hoje cada família de Itaobim ou tem alguém que mora aqui ou tem vários amigos que moram aqui..
Antigamente meia dúzia vinha aqui pra estudar, a maioria só vinha pra trabalhar e em empregos simples. A maioria das mulheres ou eram domesticas ou vendedoras de lojas.
Cheguei aqui em 79 e comecei a trabalhar em 83, antes disso, costurava umas roupas ripongas pra vender, onde colocava toda minha criatividade pra funcionar nos tecidos dos sacos de açúcar que eu coloria e enfeitava com conchas e miçangas coloridas.
A minha casa não tinha norte e às vezes pra ter uma discussão com meu marido só nos sobrava o banheiro, de tantos que tinham em nossa volta, na  nossa vida. Dentro da simplicidade que vivíamos, já  alimentamos  muita gente e eu, sem noção, quando ia contar do nosso passado sempre dizia dos nossos apertos. Só que hoje olhando pra traz tenho certeza que poderia ter tido uma vida mais fausta se não tivesse aquele tanto de gente que estava sempre por lá...
Vários cantadores, escritores, simpatizantes e sem o que fazer, por lá fizeram paradas, por um dia, uma semana, um mês ou iam sempre.
Mas voltando a mim não fiz faculdade, na minha família de sete irmãos só uma irmã que depois de casada se formou em uma Universidade Federal e outra tem um curso de Técnica de Enfermagem. Eu sempre fui curiosa e compensei os anos que não freqüentei escola  procurando conhecer o mundo e as pessoas nos livros, nos filmes, nas historias de vida das pessoas e nas musicas... .
Li de Cassandra Rios a Simone de Beauvoir; assisti de Dançando na Chuva a  Central do Brasil; ouvi de Roberto Carlos a Frank Sinatra, e politicamente desde que me entendo por gente sei o que falta e o que pode ser feito para o mundo ser mais justo.
Procuro ser justa e saber que todos merecem e tem direito de comer do mesmo pão, todos  nascemos iguais e morremos também, portanto eleição pra mim é simplesmente pessoas que são escolhidas pra funcionar e administrar o bem comum, para facilitar a vida de todos, nada alem disso.
Fico feliz de saber que hoje a vida dos meus amigos está melhor, que a minha melhorou como a deles, que invés da minha e de poucas casas para ficar quando precisam vir a Belo Horizonte, eles têm várias, que nas casas de sete filhos como na minha, todos os sete podem cursar uma faculdade, que viajar pra BH já não é mais uma aventura de procurar por dias melhores.
Gosto de viajar e ver o aeroporto cheio de pessoas como eu, que trabalharam e agora podem ir passear em outros países no conforto do avião,  que meus amigos podem ter certeza que lá onde os deles resolveram ficar não foi por falta de oportunidade e sim porque preferem as coisas calmas e no seu tempo...
Orgulha-me saber que as lavadeiras que quaravam no sol junto com as roupas que pagavam seus míseros sustentos, podem hoje viver de uma bolsa família. Tranqüiliza-me ver que uma mãe é respeitada na sua condição quando recebe uma ajuda de custo pra seu filho estar na escola. Quanto a achar que o governo é paternalista e que esta mantendo as pessoas a troco de bolsas e ajudas governamentais, só tenho certeza de uma coisa, o governo esta devolvendo o que o povo tem direito.  
Portanto, do alto da certeza que eu tenho do meu saber e do meu poder de decisão, sou feminina e feminista, nunca na historia desse Brasil uma mulher chegou tão longe e não vou ser eu com meu voto que vou fazer essa troca. Desde que o nosso país foi descoberto que os homens mandam e desmandam, a política corrupta que nos conhecemos foi criada e mantida por eles. Portanto meu voto e toda a minha dedicação é pra manter Dilma Roussef na Presidência e no comando deste Pais .
Votem em quem achar que merece seu voto e o mesmo farei, afinal confio na sabedoria de todos, de não ser Maria-vai-com-a-Globo, e de separar o joio do trigo.
Portanto, nesse meu espaço que tenho liberdade de postar e escrever o que eu quiser, quem não achar bom as minhas postagens a favor de Dilma Roussef, não compartilhe não curta e não faça nenhuma critica a minha escolha política, pois sou maior e vacinada, tenho poder de decisão e motivação!

Falei!

Retirantes

                                                        Retirantes

Eu na casa da minha nora e ela contando da família da moça que trabalha pra ela e que veio do norte de minas, se la tem pouca coisa imagina na roça há duas horas e meia da rodagem!
Lá os meninos não usavam banheiro e sim o mato, não tinham chuveiro e sim o rio ou a bacia, as roupas lavadas quaravam nas pedras para ficarem alvas, e a casa  era só varrer e molhar o chão pra assentar a poeira .Carne só de caça ou peixes redados, pescados e  de vez em quando sobrava dinheiro e da cidade o pai traz um pedacinho de carne de boi, verduras só as que nascem por ali , maxixe, maxixe fofo, abobora, quiabo, mandioca, frutas só de época, melancia, mamão, coco, araçá,  cana, goiaba,  siriguela, jaca, tamarindo, laranja, manga, jambo, jenipapo e as hortaliças como couve,  coentro, cebolinha verde, alface ...
A vida passava devagar e assim os meninos viam carros poucas vezes, quando alguém se aventurava a ir por lá o pai chegou perto de um  depois catorze pra quinze anos, a mãe só foi conhecer  numa época de campanha, em  que um candidato chegou por lá pra pedir voto, uma coisa que ninguém sabia o que era .
Os pais são analfabetos e os meninos que são quatro, com idade variando de nove  a  treze ainda não sabem escrever nem ler direito.
A mãe, depois da primeira filha, que hoje tem vinte e seis anos  deu uma parada, ai veio essa meninada, fora os que perdeu antes do tempo.
A viajem pra cá sem piscar o olho um segundo durou treze horas,  como a lua estava cheia, nem mesmo o ônibus lotado, o banheiro que ardia o nariz de tanto fedor de urina, nada disso apagou a alegria da aventura de ver passar  os matos, as arvores e as  luzes das casas nas cidades iluminadas.
Estão meio apavorados, pois segundo  uma vizinha que também se aventurou por São Paulo e voltou pro sossego de lá, na capital  as pessoas vivem presas em casas e  caem morta na luz do dia, por balas que vem não sei de onde, capital é um perigo só!
Como brasileiro tem coragem, fé e não desiste nunca, cá estão eles, andam todos de braços dados com a que já mora aqui, olha pra cima o tempo todo e ficam tontos só de ver as alturas dos prédios, não querem nem saber de subir em nenhum, falta coragem e pra atravessar as ruas todos gesticulam e gritam uns com outros, palavras que quem esta do lado não entende, estão espremidos na casa da filha que tem cinco meninos e o marido e lá são dois cômodos, as poucas coisa que trouxeram cabem em oito sacolas de supermercado, já que as panelas de barro e as camas de varas, aqui não teriam serventia.
O pai, alem de plantar diz saber fazer casas, só que de enchimento, não dessas dos andaimes, a mulher sabe lavar roupas no rio e fazer de “ cume “!
Dou um ano, pra estarem todos tocando a vida já em sua casinha, mesmo que em um bairro distante, os meninos desinibidos com seus tênis coloridos correndo pelo parque municipal , brincando de escorregar, querendo pegar os pombos, jogar farelos de pão pros peixes e sonhar...

 Um dia um deles já adulto com a vida estabilizada pelo estudo e trabalho ,vai ouvir uma estória  assim e talvez vai colocar no papel como estou fazendo agora, vai estar tão distante daquela realidade, mas sabe que assim é a vida real de muita gente que ainda esta lá e um dia quem sabe, chega por aqui !

Rapaz de circo

                                                    Rapaz de circo

Quando nova, lá em Itaobim, namorei um rapaz de circo .
Por la passou um grandioso e se chamava Circo Nerino, pra nos naquela época era quase um Cirque de Solei de tão bonito que era !
Tinha artistas do estrangeiro, dançarinas lindas em suas roupas brilhantes de lantejoulas, engolidores de faca e de fogos, teatro, atiradores de facas, elefantes, leões, macacos, trapezistas voadores, mágicos, musica ao vivo, e o apresentador com aquele sotaque que hoje eu tenho quase certeza , não passava de embromation dos sabidos, pois como descobri mais tarde, nesses picadeiros, gente falando embolado, já .era garantia de sucesso!
O meu namorado não era desse chique não, era de um mais simplesinho, que não demorava nem dois anos e estava la de novo e todos já sabiam de cor e salteado, tudo que tinha e que faltava . Esse circo tinha uma meia dúzia de bichos, uma família de palhaços, pois os velhos iam ensinando os novos, um macaco que obedecia Dr Amorim, umas bailarinas já cansadas da mesma musica de vitrola , um globo da morte que era a atrações principal, mas o que levava mesmo o publico, era que na cidade não tinha nada, então qualquer circo ou parque mesmo não sendo bom já era uma novidade.
Tinha uns moços bonitos e as mulheres parideiras, com um tanto de meninos pendurados, já não estavam lá grande coisa, os rapazes estavam cheio de amor pra dar, mas segundo minha amiga Vanilde, o que eles queriam mesmos, eram jovens sonhadoras e aventureiras para fortalecer e rejuvenescer a trupe.
Me divertir bastante namorando um deles, que me enchia de ingressos e eu fazia a festa com as amigas.
Era um cabeludo lindo, que era palhaço, malabarista, engolidor de fogo e ainda se arriscava no globo da morte e eu todas as noites ficava lá de olhos parados com tanta beleza e coragem, daquele que se arriscava tanto e que causava tanto orgulho em mim e inveja nas amigas. Na segunda passada do circo, falou que queria casar comigo, como nunca fui de dar muita bola pra esse amores imediatos, nem liguei mas prometi que quando ele voltasse eu estaria esperando...
No dia que o circo foi embora, eu estava indo pra aula e quando vi os caminhões vindo enfileirados desviei o olhar pro outro lado do rio e depois que passaram, olhei pra traz e vi os cabelos esvoaçantes do meu artista, lembrei da promessa feita e naquele momento desisti, aquela montoeira de coisa que tinham que montar e desmontar, não criar raiz e estar sempre tentando agradar a platéia era muito pra mim, o que eu gostava mesmo era de ir tomar sol na praia do Rio Jequitinhonha, andar de bicicleta, ouvir meus discos de Raul, conhecer e conversar com os hippies que sempre passavam e acima de tudo ir pras festas e ter minha cama quentinha pra deitar ...
Tempos depois o circo voltou e la eu não apareci, duas meninas se casaram com dois deles e eu pra não acompanhar as peripécias mambembes fiquei quieta no meu canto. Durante muito tempo eu e aquela minha amiga que continua doidinha ate hoje, dava o braço uma a outra e fazia o numero de Dr Amorim e seu amigo gorila, e de pernas arqueadas, batendo a mão na cabeça, tentando imitar um macaco com gritos e caretas, rodávamos a praça, sem um pingo de vergonha, nos acabando de rir de nós mesmas e ai, não tinha quem não risse das duas. 
E assim, hoje quando vejo um moço que me agrada eu falo:
Com esse, eu ia embora no circo !

Primeiro domingão do ano !

                                             Primeiro domingão do ano !

Depois de uma volta na feira pra comprar santinho pra proteção durante o ano, chego em casa com a felicidade de ver Baby Consuelo, de cabelo azul, as pernocas de fora bem linda e Maria Rita cantando juntas, Menino do Rio calor que provoca arrepio....
Cantei, dancei, sozinha, feliz de Coração de papel com ela (Maria Rita comandava o programa) e Sergio Reis que também cantou Romaria, ai veio Demônios da Garoa com Saudosa maloca, Trem das onze, Marcelo D2 com Não deixe o samba morrer e ela com suas belíssimas interpretações de sua musicas e cantando Arrastão que sua mãe também cantou...
É pra chorar de alegria ouvir e ver musica boa, como também o filme de Tim Maia, que passou, dá saudade de quando realmente se fazia musica boa, porque aquele programa da virada ninguém merecia, não dá pra crer que a globo é tão desmemoriada e tem tanto mal gosto, aqueles pagodeiros tipo Belo é um ajuntamento de mau gosto, que só Jesus na causa !
Eu acho que minha afro descendência nessa hora é zero, detesto pagode, samba pra mim é partido alto . 
Mas voltando ao Show de hoje, quando ouvi Romaria me lembrei de quando cantava no cinema de Oldack lá em Itaobim, era bacana demais as manhãs de domingo e isso também eu fazia quando morava em GV .
Lá na Radio Por Um Mundo Melhor e na Educadora os domingos eram especiais, já ganhei muitos prêmios nos programas de calouros, eu e minha amiga Neuza que hoje como a maioria dos Valadarense, faz a America, é tenho muita coisa pra contar....
Como meu bisneto diz que tem milhões de anos e que me ama infinitamente há mil anos, também acho que sou mais velha que ele e muita coisa passei ...
As musicas de Tim no filme , me levaram pra longe e lá de longe vejo o quanto nunca fugi de mim.
Quando vi Baby me lembrei de quando quis ser hippie e andar sem rumo, quando ela passou por lá com um barrigão de todo tamanho, numa Kombi caindo os pedaços e cheia de planos de viajar, cantar, não se pensava em sucesso, dinheiro. ..
Se lenço, sem documento viajar por ai pra mim, não passou da minha vontade.
Anos depois quando tive a chance de estar na carroceria de um caminhão, de Itaobim a Almenara com Luciene e Rusa, fechei os olhos e me vi indo pra Woodstock e olha que esse festival já tinha acabado há muito tempo, só acordei quando D.Angelina nos achou lá em Porto Seguro e pegou a filha de tapa e cascudo no meio da rua, voltei a realidade ali, quando me preparei pra correr ....
Fechar os olhos, sonhar e ser desleixada me deram a pecha de doidinha, irresponsável, mas como sonhar é de graça, nos meus devaneios, já fui pra muitos lugares ....
Doida nunca fui,, eu me negava a me preocupar com os chatos que queriam direcionar minha vida, se pra ser normal era sentar no banco da praça e ficar ouvindo nois vai, nois vém eu tava fora, tinha mais o que fazer, sentar no chão me afastava dos quadrados e me deixava mais perto dos desconhecidos com cabeça de vento como minha , que passavam ali, com outras coisas pra contar, fora que depois descobri, que banco da praça também engravida, ai ai ...
Dizem que todo velho vira menino eu comecei ao contrario, desci morro abaixo, livre de tudo e de todos, hoje mais serena,observo e tento me adaptar a esse mundo de teclas e mensagens virtuais,que juntando com pagode, funk e sertanejos eu acho o fim, pra essas e outras minha paciência fica desse tamanhinho.
Por tanto pra manter meu coração em paz canto muito todo dia, canto mais alto ainda debaixo do chuveiro, danço engraçado pros netos, invento passos ridículos e pra eles darem risadas então, não meço esforço ... 
E o resto, o resto como canta meu Rei que vá pro inferno, pois o céu sempre trago pra perto de mim!

Por traz do véu de Alá

                                       Por traz do véu de Alá


Minha mãe que teve três maridos, quando se foi,   o namorado que era 40 anos mais novo que ela, ficou na saudade.
Era uma mulher sabida, tinha a idade de quem estava perto   e na maioria das vezes eram bem novas.
Sempre gostou de viajar pra qualquer lugar e compreendia qualquer  tipo de viver.
Cuidava dos bichos achados na rua, como cuidava das pessoas e qualquer dia ou hora, tinha sempre um prato de comida e uma cama limpa para quem precisava .
Se minha mãe estivesse aqui iria fazer 84 anos em maio, não sei como seria, das duas uma, ou ela tinha mudado pro Iraque (lá nenhum parente ou conhecido iria) ou estaria tão plastificada que ia ter que usar um crachá, senão,  ninguém ia imaginar que ela, era ela...
Minha mãe era tão vaidosa e tinha tanta birra de envelhecer, que um dia ela ia acabar ficando mais nova que a neta, porque das filhas,   já era há muito tempo....
Um dia, no meu aniversario, ela ligou pra me dar os parabéns, me cumprimentou toda alegre, pediu a Deus por mim e no final perguntou quantos anos eu estava fazendo, quando eu falei 45 , acabou  a festa, ela disse que era mentira minha, que quem tinha 45 era minha Irma mais velha, que na verdade  é dez anos mais velha do que eu, ai falou que estava com as panelas no fogo, tinha que desligar...
Mais tarde ligou essa minha Irma para me dar os parabéns e falou que mãe tinha ligado pra ela e perguntou a idade dela e quando  falou que tinha 55 anos,  disse que estava com as panelas no fogo, desligou e minha Irma não entendeu nada!
Mas eu entendi e rimos muito,  ela não gostou de ter filhas com as nossas idades e na verdade o que ela queria mesmo, era queimar nossas línguas, idades e certidões, pois isso afirmava os anos  que ela não queria ter.
Um dia,  ela  ficou toda feliz, pois eu  falei que se tirasse  na loteria, ia presenteá-la com  uma plástica, foi a melhor promessa que alguém lhe fez !
Hoje com meus netos na idade que estão e eu ate com bisneto, não sei como ela ia encarar essa de ter trineto.
Como seria, o que  diria , vai saber  ...
Só sei que de tanto conviver com essa vaidade, também já estou começando a  me preocupar ...
Outro dia entrei na livraria Van Daime a procura de um livro sobre o islamismo, ele não gostou muito,  quando eu falei que ia me converter, falou que me considerava moderna ,  não acreditava que eu ia dar um passo atrasado desse, quando falei que a intenção era mesmo esconder  o rosto pra me livrar de uma plástica futura por causa das rugas,  ele achou graça e  enchendo a minha bola, falou que eu ia demorar a precisar disso...
E como minha mãe, que se estivesse aqui, teria os cabelos lisos e negros só na definitiva,  se bobeasse, já teria  feito uns preenchimentos e colocado silicone em pontos estratégicos, se a coisa ficar muito  feia, vou radicalizar.
 Se um dia eu passar a usar   burca, não pense que é porque aumentou a minha fé em Alá  é que   pra não ficar enrugada como um maracujá maduro, prefiro pintar os olhos de lápis   preto,  parecer  misteriosa e continuar passeando pela vida, só com  eles  de fora !

Quando eu falo que quem tem Deus tem amigos ...

                       Quando eu falo que quem tem Deus tem amigos ...

Tem uma família que traz verduras lá de Moeda e vende aqui na esquina de casa, por saberem que eu gosto, trouxeram cana pra mim, está bem docinha, isso me faz lembrar minha adolescência, indo buscar cana e garapa lá em Seu Guiomar Ferraz. Tinha dia que era buscar garapa, no outro comprar cachaça, ai eu aproveitava para experimentar, pois perto do alambique ficava uma cuia e quem quisesse bebia, e não tinha esse negocio de idade não, seu Guiomar ou os ajudantes virava as costas e rapidamente se virava a cuia numa rapidez só, a cachaça descia queimando e mais ainda porque era quente, só de ver o rosto vermelho, os olhos brilhado e rindo a toa já dava pra imaginar ...
Depois, descer aquela ladeira de bicicleta, na banguela, de mãos solta, sentindo o vento no rosto, era liberdade total !
Liberdade também era descer abraçada nos pés de bananeira de Seu Mariano, pelo córrego São João, fumando um cigarro Continental sem filtro, surrupiado de minha Mãe e sem saber nadar ...
Vida de interior não é brinquedo não, aprendi a beber, a fumar e a ter coragem ! Engolindo lambaris vivos, redados na beira do córrego não aprendi a nadar por mais que insistisse,mas cozinhando os cascudos, bagres e as piabas que consegui, aprendi fazer uma boa moqueca.
Já fiquei com os dentes blocos de tanto chupar cana, manga verde com sal e tamarindo caído do pé.
Mas voltando aos dias de hoje,depois da cana lembrando de casa, me empolguei!
Por não ter saquinho pra chup-chup( minha Mãe fazia e mais dava pros meninos do que vendia) fiz uns copinhos de picolé de abacate e de manga e nesse final de semana quando os netos chegarem, tudo aqui vai ficar grudento, pois meninos não gostam de lavar as mãos e pega o copinho, mela a Mao, pega na mesa, pula na cama, vem pro computador e minha casa vai ficar assim, cheia de doce como são meus netos...
Hoje peço a Deus que os proteja , minha Mãe naquela época se soubesse o que eu aprontava ia pedir proteção pra natureza, comer peixe minúsculo e vivo, pescar peixe pequenos, cortar pés de bananas pra boiar no córrego e ainda caçar passarinhos pra fazer cozinhado ....
Ah! mais essa é outra estória , depois eu conto!


O amor e suas reticências

                  O amor e suas reticências

Estava vendo o BBB e ouvi um dos participantes berrando que amava  todo mundo que votou pra ele ficar. A anta se esqueceu que ninguém votou pra ele ficar e sim que os votos pro outro sair foram mais ...
Mas deixando esse programa de lado o que eu quero mesmo é deixar claro uma coisa, estou de saco cheio de tanto ouvir essas baboseiras , declarações  de amor sem pé nem cabeça, eu amo, meus amigos, eu amo meu trabalho, eu amo tal cantor, tal ator, amo, amo, amo !
O Amor esta perdendo o significado e falar isso o tempo inteiro, ao meu ver, diminui  a sua grandeza,  o seu valor...
As terapias e acompanhamentos, para aliviar de algumas coisas guardadas e pesadas, tipo traumas, descasos de alguma fase da vida, nos fez achar que colocar pra fora sentimentos, perdoar a sacanagem que nos fizeram, dizer pra pessoas que as amamos seria bom e ai deu nisso, um monte de declarações estapafúrdias e mentirosas .
Amor de verdade só existe de pais pros filhos e de filhos pros pais e olhe lá, pois tem muitos filhos e pais que se matam , roubam, trapaceiam, então amor nesses casos também não tem, não existe. .
Quando você ama alguém, você não só deseja, mas faz e facilita pra ela, amor é dedicação, admiração, amor é incondicional, e mesmo quando a criatura não mais existe o seu amor esta ali, firme, forte, e  inabalável,  nas lembranças e na saudade!
Então quando vejo um tanto de gente que matou, que abandonou, que traiu, que roubou quem dizia amar, ai eu digo, amava uma ova!
Portanto me nego a achar lindas e querer pra mim essas declarações de amor.
Amo meus filhos e através deles, amo meus netos e bisnetos.
Amo meu pai e minha mãe eternamente.
De algumas pessoas que passaram, estão e passarão por minha vida, eu gosto. Gosto muito de alguns e muito mais de outros, mas só gosto!
Amor pra mim é tudo, é o máximo, é o melhor que tenho em mim pra essas pessoas que citei, o resto é só gostar!
Amar é precisar, é querer ter pra sempre, é ter saudade quando a pessoa vai na padaria, é rezar mais pra ela do que pra você ...
Amar é simples assim...
Estou dizendo tudo isso porque acho que é muita declaração pra pouca ação.
É gente falando e acreditando em bobagens.
E aquele coraçãozinho então, com os dedos no peito, aí ninguém merece!

Chuteira dourada não segura queda...

                      Chuteira dourada não segura queda...


E despencou Neymar de sua chuteira dourada, que não amorteceu sua queda, e com toda genialidade focada espalhada e enaltecida pelo mundo inteiro, não fez os gols esperados.
O Brasil sempre e precisamente nas Copas, fica sempre esperando a vitoria geral. Somos direcionados a acreditar que somos os melhores e que a seleção brasileira, com tanta confusão criada em torno dos nomes de jogadores que nos representaram, dos vinte três escolhidos, sempre tem aquele que será o salvador ...
Na copa que Ronaldo deu um piripaque, também foi parecido, a taça e os corações dos trouxas a ele pertenciam e assim perdemos o titulo e a alegria.
Agora vem Neymar,  a musica, a namorada chifruda, querendo tirar da capa da revista de mulher pelada a fulana que com ele ficou, a cueca da hora,  o sorriso simpático pro garotinho carente, a irmã horrorosa desfilando pra não sei onde ....
Quer saber? Me poupe, tem mais jogadores preparados no Brasil inteiro e na seleção tem vários deles que estão lá de enfeite, pois nem passaram perto da bola, dos três goleiros, o Julio Cesar que pouco faz, outro  dia com a falta de sorte do jogador do outro time  de ter acertado a trave, virou da noite pro dia salvador da pátria !
É muita bobagem pra um povo só, criticaram, vaiaram, falaram mal  do criador e da criatura  responsáveis pela Copa ser aqui, e hoje, estão todos ai, enlouquecidos pelos “heróis nacionais” vestidos de  verde-amarelo com  “aquilo” e os corações nas mãos !
Aqui tudo vira comoção nacional, mas a primeira pagina é esquecida no dia seguinte, com o próximo jogo ou alguma mazela política.
E os desgovernos estão ai desviando dinheiro em obras faraônicas como a Cidade Administrativa, construída a toque de caixa pra comemorar os 100 anos de Tancredo.
O  cimento que gastaram fazendo a via pro Move desfilar com sua frota de meia dúzia  de ônibus, deve ter faltado pra reforçar as vigas do viaduto que caiu.
Os hospitais públicos sucateados, a falta de estrutura das estradas de Minas, a falta de respeito e humanidade com os bens  públicos e etc e coisa e tal.
Na verdade, a maioria dos brasileiros são  passionais, vivem da alegria das festas dos outros, das vitorias dos outros, esperando que façam por eles ...

Agora,  com a coluna bichada em um incidente que quem pratica qualquer esporte pode ser vítima, pois estão  todos se  matando por um lugar ao sol e cheio de dinheiro embaixo, Neymar, realmente vai ficar na historia, sem precisar fazer nada, viraram todos os holofotes pra ele, pra que se esqueçam das tragédias diárias, da falta de patriotismo  que só existe pra tomar cerveja e gritar gol e  quando não tiver gol, esperar mais quatro anos... 

Natal sem Roberto....

                                          Natal sem Roberto....

No Natal, Roberto Carlos esta para o Brasil como aquela arvore do Rockefeller Center esta pra Nova York.
Há muitos anos o Rei dá o toque Natal em dezembro e eu,   adoro!
Nada me tira de casa nessa noite, choro, dou risada, mas acima de tudo me lembro ...
Na minha infância lá em Valadares, ele  começou a fazer parte da minha vida, da minha historia, com muita alegria e algumas tristezas.
Canzone per te que ontem ele cantou, foi o que me tirou lágrimas desde a primeira vez que ouvi, naquela época a  Itália até onde sabia era onde tinha o Papa,  ele foi lá cantar e encantar e nos deixar cheios de orgulho, pois ganhou o festival de San Remo...
Quando eu cantava no radio,  uma vez teve um show da jovem guarda e ele lá todo  esmirradinho nem dava pra prever  que teria  tanto sucesso.
Ah! Roberto, meu primeiro e sempre ídolo, que sempre ouvi e vivi nas musicas, as dores, os amores, chegar perto então, é faltar o chão...
E já faltou pontos também, quando depois de uma cirurgia me pendurei numa grade pra chegar mais perto e rápido no camarim, quase tive que refazer, dessa feita ganhei alem de beijinhos e abraços um bombom sonho de valsa, que anos depois uma amiga minha não teve um pingo de consideração e comeu .
De outra vez quase que tomei prejuízo, quando joguei um blazer na empolgação do show e ele depois de cheirar, beijar e me jogar de volta, fez com que uma anta maior do que eu em todos os ângulos, o tomasse de mim e segurasse como se fosse dela, quebrei o óculos da dita cuja e não sei onde consegui forças, mas consegui tomar  a peça que nem tinha sido paga com a ajuda de um segurança pois ele  continuava  a cantar preocupado com o que via cá em baixo  ! (eu travando uma luta corporal)
E ontem na hora que ele mostrou Elvis dançando rock, me apavorei, com medo que ele fosse dançar daquele jeito, a idade já não permite e  eu  só me tranqüilizei, depois que ele começou a cantar e vi que só  balançava a cabeça!
Meu Rei tá velho, não pode  mais fazer muitas peripécias, mas não deixa de seduzir as incautas, que o diga uma amiga minha casada, que não perde um show e ele em qualquer estado civil que esteja, não deixa de ficar flertando com ela, nem na dor da viuvez  ...  
São muitas historias, mas o que eu gosto mesmo são as lembranças das musicas  dele enquanto minha vida acontecia .
Quando meu filho se casou e  mudou daqui de casa,  meus CDs sumiram, descobri que de noite quando a mulher dele dormia ele ia pra sala ouvir Roberto e chorar de saudade daqui da “casa de  mainha  “ ( foi o que disse a minha nora) e hoje meu bisneto quando quer me agradar canta “esse cara sou eu” ...
É Roberto, sua musicas faz ficar  mais perto os  filhos dos pais, os amados dos amores. Como sempre, pra mim, você é o resumo do meu ano bom, com todos que eu amo pensando em mim quando você canta e cantando junto pelo, menos um pedacinho!

Em paz com a vida e com o que ela me traz , da fé que me faz otimista de mais, se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi.....

Nasci pra viver

                          Nasci pra viver  

Nasci pra viver e não, seguir regras . 
Gosto de dormir quando quero, acordar quando os olhos abrem.
Na hora de comer, o tempo é o que preciso, pra agradecer, mastigar devagar, sentir os sabores...
Sempre fiz meu tempo especial para ter tempo .
Tempo de conversar com estranhos, dar um abraço apertado nos amigos que encontro pelas ruas, tempo pra telefonemas longos, tempo pra me atrasar sempre, que quero ficar e os outros querem que eu chegue....
É certo pra mim rir de incomodar chorar por qualquer motivo e falar...
Falar sobre a vida,  de mim, do que vivi...
Acredito que a vida é finita e o amanha chega muito rápido, por tanto hoje, agora nesse momento eu quero me fazer bem e o meu bem só faz bem a mim .
Ninguém mais do que eu sabe do meu querer, portanto me responsabilizo por me cuidar me paparicar e me fazer feliz.
Se a vida não tem receita pra ser feliz quero saber todas novas receitas criar novos sabores sentir o gosto e gostar...
Sonhar com  os olhos abertos, olhando as flores da minha janela com um abraço pequeno e doce que me acorda nas manhas em que meu bisneto dormi aqui.
Tomar um thai e aproveitar de um ombro que me espera e me aconchegar ou vou ver a lua vermelha?.
Fui!


Não me interessa o hexa

Não me interessa o hexa


Quem me  conhece sabe, não vou a jogos, não torço pra nenhum time de futebol e isso há muitos anos, pois cheguei a conclusão que jogadores de futebol, só torcem pros bolsos deles .
Creio que esporte faz bem pra saúde e também é divertido, só que  se paga muito caro pra meia dúzia se dar bem .
Conheço meninos que sonham a vida toda em ser jogador de futebol pois sabem que isso é um passo pra fama, muito dinheiro e mulheres .
Gostava do futebol la de Itaobim no campo na beira do rio, não era gramado, nem tinha arquibancada e pra  onde vinham os rapazes da região que faziam a alegria das meninas e da cidade, de preferência quando perdiam pros nossos atletas !
Ninguém ganhava nada pra isso,  ate o uniforme era pago por cada jogador e o máximo que ganhavam eram elogios, um abraço de uma torcedora mais animada ou um xingatório quando o time perdia.
 O Guarani, com Adalton, Nôca, Dilsinho, Zé Áureo, Marão, Pampam, Paulinho de Oldack, Paulinho Seco, Paulinho Moreira, Saruê, Ruiter e Zezinho Caroço ...era de encher os olhos e as cidades onde iam, final de semana era uma festa só, quando ganhavam e o sambão caia de concha...
À distancia, eu também torcia pelo Flamengo, sem nunca ter visto nenhum jogo ou jogador .
 Hoje estão ai essas estrelas de poder e dinheiro que correm o mundo e ficam ricos da noite pro dia, sem apego ou amor a camisa nenhuma. Passam por todos os times e se tiverem uma boa proposta vão jogar fora do pais e, se preciso, até contra o Brasil.
É mole ou quer mais?
Falo que o Brasil, infelizmente, é visto no mundo inteiro como o pais da bola e das falcatruas, portanto não vai ser agora com essa Copa, que vou ficar apertando essa ferida.
Sempre em todas as copas, e quem me conhece sabe disso, nunca vesti uma camisa verde–amarelo, nunca me enrolei numa bandeira,  pois nunca me orgulhei dessa alegria fake que acontece sempre que o Brasil vai participar de qualquer coisa ligada a futebol.
Acho a maioria dos jogadores umas amebas,  a maioria de meninos feios e burros e que não sabem nem o que dizer quando precisam dar uma opinião, só  jogam bola e devem se sentir e se achar a alegria da pátria, não sabem que o povo não vive só de alegria.
Agora, às vésperas do Brasil estar de portas abertas pro mundo, depois da propaganda enganosa da vida inteira,  poderíamos   receber quem chega com educação e eficiência.
Estamos vendendo uma historia que a maioria acredita nela, de sermos o país da arte  do  futebol, então, que  depois da copa, todos de verde- amarelo ocupem os  estádios faraônicos, até que a verba também apareça para construir hospitais, escolas, melhoria nos transportes públicos, e acima de tudo, ao invés de depredar  o pouco que temos. Vamos pegar um governador, deputado ou senador, tipo, uns que temos por aqui, tirar a roupa e amarrar num poste,  não dar nem um cascudo, mas deixá-lo exposto ao ridículo, até que apareça todas as televisões e jornais. Assim, no mundo inteiro  ele vai ser mostrado e vão saber o que prometeu e não cumpriu, dos desvios de verbas e de todo descaso e desrespeito com o povo.
Ai se os outros não tomarem vergonha e começarem a temer pelo que pode vir depois, pelo menos um regime serão obrigados a fazer, pois terão certeza que nos não vamos mais permitir que nos empurrem com a barriga.

Acredito que assim, com esse jeitinho brasileiro, as coisas vão  começar a mudar. 

Meus amores de Setembro

                                                            Meus amores de Setembro
Nas manhas de setembro eu passei a ter mais flores e mais alegria desde que Taty e Pola nasceram.
Minha vida e meus dias, ficaram mais ensolarados e mais feliz com eles, depois vieram os filhos deles, mais ai é outra historia.
Eu nasci em Teófilo-Otoni, meus pais estavam passando por lá, quando eu quis nascer, D Bolachinha que era parteira, foi quem me segurou num parto tranqüilo e sem dor . 
Nas duas gravidez continuei levando a vida sem me preocupar com barriga crescendo ou o tamanho dela, subindo nos pés de coco e nos de manga, andando de bicicleta, e tentando aprender a fazer o enxoval de bebe.
D. Fia de Manezim, parteira de mão cheia, com sua generosidade e competência fez meu parto em casa, rodeada do carinho e dos cuidados da minha mãe e dos meus irmãos, alem dos gritos do papagaio que insistia em gritar por minha Irma. 
Meu trabalho de parto, demorou de duas da manha as quatro e meia, entre uma contração e outra eu comia farofa com carne de sol e café, pra dar sustança e fortalecer o corpo, mas também acendi uma vela pra Nossa senhora do Bom Parto, pra garantir a fé e me dar uma boa hora. 
Meu irmão que estava vindo da festa de noivado de Olga e Marao, já batizou a losna, nervoso e empolgado com a primeira sobrinha , tentava a todo custo me fazer cantar o refrão de uma musica de Gilberto Gil pra espairecer...
Não sabendo que amamentado também engravidava no ano seguinte já mais preparada chegou Póla, nasceu sem grande alarde, pois da primeira vez fiquei meio insegura, não sabia nada e um pouco nervosa, bem que eu chorei um pouquinho....
Minha vida tem muita historia e vitorias, meus filhos são as vitorias em carne e osso, saudáveis, verdadeiros, generosos, honestos e carinhosos, com todos.
Se eu pudesse voltar atrás só não ligaria as trompas e teria mais filhos, uns dez pelo menos e teria que ser em casa, como foi com os dois e assim eu seria bem mais feliz .
Já estive ao lado de muitas na hora do parto, vi nascer filhos de amigas e de mulheres que não conhecia, que nunca mais vi, sempre tentei passar o carinho e a grandeza desse momento como D Fia fez comigo, sou grata de coração e sempre que posso digo isso a ela.
Agora sem meu pai e minha mãe, tomo uma taça de vinho e brindo a eles e a todos que de alguma forma me ajudaram a chegar ate aqui, pois com minha vida igual a rapadura que é doce mais não foi mole, me lambuzei na doçura e a dureza comi pelas beiras, sobrevivendo as fofocas, maldade e ingratidão e cá estamos os três, meus filhos, seus filhos, meus amores .. .
Que Deus abençoe nossas vidas todos os meses do ano, pois independente de ser setembro, sou mais feliz todos os dias com os presentes que Deus e a vida me deu e que eu amo !


Meu pai me ensinou

                                                 Meu pai me ensinou


Meu pai me ensinou a ser livre,mesmo tendo os pés no chão, a gostar de vento de flores de chuva e  de Nelson Gonçalves !
Com ele aprendi a comer de buchada de bode que diga-se de passagem é um horror ate capitão amassado e dividido com minhas irmãs.
Me ensinou a achar  normal  qualquer  novidade , o homem ir a lua, os amigos fumar maconha,. a gravidez da vizinha e a falta de olho de um tio que eu tive e que era cego.
A minha Tia Celina velhinha e que pela vida difícil que teve só lhe restava poucos dentes na boca e que depois de viúva se engraçou com um português que também tinha poucos dentes mais teve vontade e dinheiro o bastante para levá-la pra Portugal e meu pai dizia a trancos e barrancos já temos um parente na Europa ...
Quando eu estava grávida de Tati parou lá perto de casa um caminhão de bode e ele pra conseguir comprar um pois eram contados disse ao motorista que eu estava com desejo o sujeito se condoeu e nos deu um bode, que passamos a noite limpando, assando e comendo bode e essa proeza ele já havia feito quando eu era pequena e tivemos uma cabra que me deu leite por muitos anos .
Uma véspera de natal ele chegou em casa com uma acordeon e cismou que eu tinha que aprender a tocar ,como era muito grande e não tinha ninguém pra me ensinar acabou vendendo e me dando uma bicicleta zerada pra eu descer na banguela nas ladeiras mais empinadas de Valadares.
Meu pai teve uma motocicleta e um dia queria porque queria ir a Aparecida do Norte com eu, minha mãe e meu irmão Bertinho, pra ele conhecer a Santa ,como mãe não teve coragem foi só e nos trouxe varias fotos que nos fez arrepender por muitos e muitos anos de não ir na aventura.
Ele também desbravou a transamazônica, numa das brigas que teve com minha mãe e sumiu, voltou oito meses depois, com fotos abraçado a índias jovens com os peito de fora e muitas novidades das aldeias.
Com ele aprendi a conversar , escutar  qualquer estranho, ter interesse em qualquer  historia   e saber contar as minhas. Chorar por qualquer coisa triste e rir de qualquer bobagem, ter certeza que tudo  é possível e que a luz pode estar no inicio e não no fim do túnel.


Minha prece

                Minha prece

Meu Deus, nosso Pai misericordioso, criador do céu e da terra e de nós seus filhos .
Dê a nós o perdão pela incompreensão, pelo desamor, pela falta de solidariedade, humildade e pela ambição.
Nos faça instrumento da sua vontade e humildade, para reconhecermos nossos erros, faça de nós solidários com nosso próximo e nos faça contentar com aquilo que por merecimento nos temos .
Acima de tudo meu Deus, nos guie para o seu caminho e entender de luz, de amor e de paz, faz com que a cada minuto, possamos enxergar nas pequenas coisas a grandiosidade da sua existência. 
Querido e amado mestre, nos ampare  sempre por intermédio de teus emissários espirituais, que nos guiam com paciência, bondade e sabedoria .
Perdoa nos, as imperfeições e o fato de sermos materialistas, omissos, invejosos enfim pecadores . 
Liberta o nosso pensamento das coisas mundanas, para que possamos única e exclusivamente, compreender e aceitar sua vontade.
Aproveitamos também para implorar a tua luz, em favor de todos aqueles que soluçam e sofrem .
Ilumina senhor as criancinhas, para que tenham um bom aprendizado de amor carinho e humildade, nesta vida tão cheia de atribulações.
Proteja Mestre, os jovens das tentações e dos vícios inferiores .
Ilumina o caminho dos pais, na boa educação de seus filhos, espalhando sabedoria e amor sobre eles .

Mostra o caminho e agasalha os andarilhos e os pobres . 
Abranda os corações dos criminosos e dos encarcerados . 
Dai forca e fé aos asilados e doentes, abençoa os dirigentes de todas as nações, para que o sentimento de Paz esteja sempre em seus corações,   abençoa a nos todos Mestre dos Mestres, para que não venhamos a cair nas tentações e livra nos Senhor do mal que trazemos enraizados em nossos próprios corações.
Amém! 

Escrita por mim numa manha de 2008

Médicos estrangeiros

                                       Médicos estrangeiros



Tem uma menina dando aula de português pros médicos estrangeiros, ela é boa nisso e ainda bem que ela sabe muito do nosso palavreado popular, porque se nao soubesse...
Doenças tipo difruço, espinhela caída, engastanhado na goela, peleumonia, ventrusidade, boi, regra,lançadeira, pano, dordói, mal de sete dias, ressecado, lançadeira, doença dos nervos, variando, cabeça fraca, dor nas cadeira, atoleimado, berne na cabeça, frieira, quebranto, cabeça fraca, custipação, sol na moleira, esmagrecimento,tísico, taluda, prenha, estribuchado, estado nervoso abalado, corrimendo, , furuculo, embaraçada, de barriga, prenha, buchuda, nascida, panaris, istrequemodomi, macambuzio, mal triste, mula, cavalo de crista, chato, corcunda, barriga d'agua, chistosa, olho-morto, istalaçao trocada,zarolha, zambeta das pernas mongoloide,retardado, tiriça vao ter que saber o que é ! 
Agora eles podem tomar tenência , porque pra aprender o que isso realmente significa vao ter que saber o que significa já lêia, já levinha, nos vai, romper, inrriba, promodi, desenxavida, desprovida, canela fina, zoio de gato, destrambelhada,ai meu Deus,é tanta coisa ...
Mas tem mesmo é que prestar assunto na professora, pois se ela ficar desurida e escafeder, ai eles vão desembestar e voltar zunindo para o lugar de onde vieram, pois para cuidar direito dos "impacientes" tem que estar tinindo. Como, alem de ensinar tanta coisa, a professora também não é carente de formosura, é melhor assuntar ...

A peleja de Marina contra a saudade de Naiara ou a favor da cachaça de salinas...

A peleja de Marina contra a saudade de Naiara ou a favor da cachaça de salinas...



Isso foi há muitos anos: - A Primeira viagem de Mara sem Naiara, sua rebenta, que pequena, ainda não podia participar das festas e festivais no Vale.
Mara encantada com a liberdade de ser plena. Mãe e mulher, novamente fazendo parte das rodas de violas e cantorias que só no Vale nos valia .
As tintas e os pinceis já faziam parte da sua empreitada, mas de uma maneira guardada protegida da vontade de se aprimorar, se mostrar e embelezar a vida com suas cores e alegria.
Salinas e sua cachaça. Salinas e sua historia. E nós lá, cheios de vida, em busca de novidades e alegria.
Aguardente e ardente, a saudade misturada e um rio seco debaixo de uma ponte.
Lembra Mara da saudade da filha ausente, a garrafa debaixo do braço periga cair, tem que segurar a garrafa, tem que segurar o coração e tem que ignorar o rio senão...
Rio sem água não afoga, saudade é coisa boa que nem incomoda, assim deixa o rio pra lá, é hora de comemorar.
Davi  chegou depois e a alegria se compôs ...
Os festins e festivais continuam nos pinceis de Marina, em suas telas, que hoje enfeitam e alegram quem as tem, quem as quer.
São traços firmes coloridos e seguros, que transformam a peleja das cores, das flores e dos cantos, no encanto de minha comadre, com seus quadros que embelezam e iluminam nosso canto.

Maria, Bom Jesus e seus Anjos

                                           Maria, Bom  Jesus e seus  Anjos

Vendo um documentário com Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e político, que conhecia como poucos, a vida das pessoas mais simples, me veio a memória coisas  minhas, que guardo com carinho, pois creio que se eu soubesse as experiências que teria, brincaria com Deus, pedindo muitas outras vidas, pois essa não daria pra minhas vivencias.
Fui pastorinha nas Folias de Reis, cantávamos de casa em casa, pela madrugada afora. A Folia cantada por nós e nossas vozes finas  e altas, sobrepunha a dos cantadores de vozes mais firmes, e  quando entrava no terreiro de uma casinha simples cantando : “Ô de casa, Ô de fora, abra a porta e vem ver ...Deus Menino em sua porta, ele acaba de nascer..”
Os donos das casas e suas famílias chegavam felizes, nos convidando pra dentro, todas as lamparinas eram acesas, o fogão que já estava quase no borralho era assoprado e logo começava a fumegar. Um presepio no canto da sala feito  com sacos de cimento pintados com carvao e salpicados de malacacheta, nos lembravam um ceu estrelado, o Menino Jesus deitado num pouquinho de capim com Maria e Jose nos emocionavam com a singeleza dos enfeites, de tudo que e jeito...
 Por uma meia hora, cantavam, rezavam, beijavam a bandeira e depois de comer tudo que tinha pela frente, alguns adultos, despistavam e tomavam umas boas talagadas  de cachaça e a folia seguia pra casa mais próxima...
Cada casa era uma novidade. Preparavam uns comes e bebes, pois como não eram avisados, em que casa passaria a Folia, toda casa se preparava da melhor forma e era muito mingau de milho verde,  milho cozido, assado, rapadura, caldo de cana, biscoito de sal e doce, jurubeba Leão do Norte, farofa,  carne assada, café e doces. Mas mesmo com toda a comilança oferecida, sempre tinha no meio, aqueles que aproveitavam da fé e do bom coração e acabavam enchendo os embornais de frutas, biscoitos e ate pedindo galinhas vivas, ovos, até porco eu já vi ser dado e levado!
É, cantar Reis além de fortalecer a fé, ainda ajudava na feira da semana.
Antes disso, quando  pequena, lá em Itaobim, num mês de maio, que  é o mês de Maria, coroei Nossa Senhora. Naquele momento, num vestido rosa de cetim e pala de casinha de abelhas e asa de penas de verdade, que eram feitas pelas irmãs, e com a coroa reluzente, me senti um anjo.
Tão anjo era, que um ano depois, minha mãe, tendo que pagar uma promessa em Bom Jesus da Lapa, levou a minha irmã e eu . Chegando lá, antes da festa que seria no dia seguinte,  foi na igreja doar nossas vestes.
O Padre, encantado e agradecido com a doação, pediu também, que ela deixasse eu e minha Irma vestir de anjo pra compor o andor que seria o ponto alto da procissão.
O andor que era carregado pelos fiéis, era todo forrado com flores naturais e uma imagem de Nosso Senhor Bom Jesus da Lapa na frente de um grande coração de veludo vermelho e nas laterais, eu e minha Irma como anjos protetores, estávamos sentadas na beira, protegendo Nosso Senhor...
Os fiéis em sua humilde fé, esfregavam nossos pés com as mãos, esfregavam lenços,  alguns beijavam e a  força de cada um, fazia com que o andor pesasse toneladas nas costas daqueles coitados que se inclinavam nos fazendo temer uma queda.
As ladainhas cantadas e as  palmas saldando o Santo, nos faziam a cada momento mais e mais  apavoradas e o andor mais inclinado pela aproximação da igreja que ficava no alto, só aumentava nosso medo. Até que apareceu uma infeliz com uma tesoura e começou a cortar pedacinhos do meu vestido e dar aos fiéis. Quando olhei pra minha irmã, como eu as lágrimas desciam, pois dividíamos o mesmo medo, que era de que nos ferissem os pés.
Graças a Deus, Bom Jesus da Lapa, era mesmo milagroso pois com toda a turba a nos cercar e puxar pra lá e pra cá, conseguimos chegar no altar, inteiras, com Santo e tudo.
Os vestidos estavam com as partes abaixo dos joelhos em tiras e minha Mãe com o coração em paz nos aconchegou nos braços, toda orgulhosa, e continuamos a louvar o santo. No final, depois de toda homilia, o padre em agradecimento nos chamou ao microfone, agradeceu e perguntou se queríamos falar algo. Peguei o microfone e com toda a força dos meus seis anos gritei:
“Viva Nosso Senhor Bom Jesus da Lapa” !!!!!!!!!!!!!!