Rapaz de circo
Rapaz de circo
Quando nova, lá em
Itaobim, namorei um rapaz de circo .
Por la passou um grandioso e se chamava Circo Nerino,
pra nos naquela época era quase um Cirque de Solei de tão bonito que era !
Tinha artistas do estrangeiro, dançarinas lindas em
suas roupas brilhantes de lantejoulas, engolidores de faca e de fogos, teatro,
atiradores de facas, elefantes, leões, macacos, trapezistas voadores, mágicos,
musica ao vivo, e o apresentador com aquele sotaque que hoje eu tenho quase
certeza , não passava de embromation dos sabidos, pois como descobri mais
tarde, nesses picadeiros, gente falando embolado, já .era garantia de sucesso!
O meu namorado não era desse chique não, era de um mais
simplesinho, que não demorava nem dois anos e estava la de novo e todos já
sabiam de cor e salteado, tudo que tinha e que faltava . Esse circo tinha uma
meia dúzia de bichos, uma família de palhaços, pois os velhos iam ensinando os
novos, um macaco que obedecia Dr Amorim, umas bailarinas já cansadas da mesma
musica de vitrola , um globo da morte que era a atrações principal, mas o que
levava mesmo o publico, era que na cidade não tinha nada, então qualquer circo
ou parque mesmo não sendo bom já era uma novidade.
Tinha uns moços bonitos e as mulheres parideiras, com
um tanto de meninos pendurados, já não estavam lá grande coisa, os rapazes
estavam cheio de amor pra dar, mas segundo minha amiga Vanilde, o que eles
queriam mesmos, eram jovens sonhadoras e aventureiras para fortalecer e
rejuvenescer a trupe.
Me divertir bastante namorando um deles, que me enchia
de ingressos e eu fazia a festa com as amigas.
Era um cabeludo lindo, que era palhaço, malabarista,
engolidor de fogo e ainda se arriscava no globo da morte e eu todas as noites
ficava lá de olhos parados com tanta beleza e coragem, daquele que se arriscava
tanto e que causava tanto orgulho em mim e inveja nas amigas. Na segunda
passada do circo, falou que queria casar comigo, como nunca fui de dar muita
bola pra esse amores imediatos, nem liguei mas prometi que quando ele voltasse
eu estaria esperando...
No dia que o circo foi embora, eu estava indo pra aula
e quando vi os caminhões vindo enfileirados desviei o olhar pro outro lado do
rio e depois que passaram, olhei pra traz e vi os cabelos esvoaçantes do meu
artista, lembrei da promessa feita e naquele momento desisti, aquela montoeira
de coisa que tinham que montar e desmontar, não criar raiz e estar sempre
tentando agradar a platéia era muito pra mim, o que eu gostava mesmo era de ir
tomar sol na praia do Rio Jequitinhonha, andar de bicicleta, ouvir meus discos
de Raul, conhecer e conversar com os hippies que sempre passavam e acima de
tudo ir pras festas e ter minha cama quentinha pra deitar ...
Tempos depois o circo voltou e la eu não apareci, duas
meninas se casaram com dois deles e eu pra não acompanhar as peripécias
mambembes fiquei quieta no meu canto. Durante muito tempo eu e aquela minha
amiga que continua doidinha ate hoje, dava o braço uma a outra e fazia o numero
de Dr Amorim e seu amigo gorila, e de pernas arqueadas, batendo a mão na
cabeça, tentando imitar um macaco com gritos e caretas, rodávamos a praça, sem
um pingo de vergonha, nos acabando de rir de nós mesmas e ai, não tinha quem
não risse das duas.
E assim, hoje quando vejo um moço que me agrada eu
falo:
Com esse, eu ia embora no circo !
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