sexta-feira, 8 de maio de 2015

Seu Leopoldo e a rampa da saudade.

                                              Seu Leopoldo e a rampa da saudade.

Seu Leopoldo mesmo não vivendo como um anjo, morreu como tal.
Um dia, pouco antes da festa de São Geraldo, lá em Curvelo, pra não ser incomodado pela esposa, pediu que ela fosse buscar as passagens na rodoviária pra em paz ver seu jogo. Moravam perto da praça da estação, um pulo ate a rodoviária e em menos de uma hora quando de lá retornou ele já tinha dormido, dormido?
 Não, morrido, morrido da silva e ela como não era acostumada achar marido morto, achou que era gracinha, uma peça, só que depois de sacudir, gritar e dar uma dura, teve certeza ele tinha ido dessa pra melhor.
Na hora ligou pra filha,  que a buscou, acalentou e a levou pra casa. Quando fiquei sabendo fui lá dar um abraço na minha amiga e vendo a dor das duas acabei indo pro velório...
Chegamos no Parque Renascer, ficamos por ali e a viúva já calma aguardava a chegada do corpo que ela tinha visto na hora do acontecido.
 Ai chega o corpo, quando a funerária depositou o caixão e as coroas fomos todos ver o morto e amparar a viúva que tanto gritava, como se debatia, ameaçou desmaiar umas duas vezes e quem já viu sabe a tristeza que é numa hora dessas, minha amiga não sabia se chorava ou segurava a mãe, que quando menos esperava se atracava com o caixão e eu ali fazendo força pra ajudar a segurar a viúva ou a amiga se também precisasse ou o morto.
Depois de varia idas e vindas de desespero ao caixão ela se aquietou, achei que tinha dormido um pouco, mero engano, ela estava era pensando na vida e na vida com o finado ...
Lá pras tantas da madruga, ela calmamente se levantou e todos correram para ampará-la e ela firme e forte chegou perto do caixão olhou o marido ali deitado  e começou uma conversa longa de cobranças e acusações.
Seu Leopoldo daquela vez não pode se defender, ela lembrou todas as puladas de cercas e das raivas que esses chifres a tinham feito sofrer, olhar aquele homem ali inerte, num bigode bem aparado, num semblante de paz, nunca daria pra imaginar as peripécias que fazia com as moças puras e desavisadas que passaram por aquele bico doce.
Seu Leopoldo nos áureos tempos de conquistas, se dizia  fazendeiro no Pará, dono de terras e gados, chegava até a inventar sotaque e dizer que era de Portugal e que viera de além mar pra buscar uma linda rapariga e assim dar mais importância a paixão súbita pela escolhida e desavisada ...
E o dia já amanhecendo, depois de ter ouvido ela contar todo tipo de historia cabeluda, não acreditei quando apontando pra rampa que sobe pro crematório com uma mão e com a outra alisando a dele, começou a falar : amanha você vai subir por ali vai encontrar os safados iguais a você, que la estão há tempos lhe esperando e eu vou ficar aqui só olhando ...
Um mês depois chego na Serraria Souza Pinto,  numa festa e a vejo toda faceira, de mãos dadas com um sinhozinho, cabelos branquinhos de cara tranquila e apaixonada, por coincidência o genro dela apareceu em meio aquele burburinho de gente e quando perguntei por minha amiga ele falou que ela tinha ficado em casa pois andava preocupada com a mãe... Não aguentei e mostrei o casal, ele só acreditou porque viu e minha amiga porque ele ligou e falou,   depois de um mês quando soube dessa novidade ela teve a primeira noite em paz.
Ficamos de longe olhando, tomando uma cerveja e comemorando o novo casal que no  final da noite enquanto Gonzagão cantava :

"Eu só quero um amor  que alegre o meu viver, um xodó pra mim, do meu jeito assim....E ela toda serelepe  dançava de rosto colado com a nova conquista me lembrei de Seu Leopoldo que lá no Céu devia estar perturbando os anjos, querendo uma explicação, pois o amor e a dedicação dela que foram com ele pro alem, não lhe dava o direito de dançar e ficar tão feliz por aqui...

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