sexta-feira, 8 de maio de 2015

Como embaraçar uma mulher já embaraçada!

                      Como embaraçar uma mulher já embaraçada!

Às vezes, começo a conversar com a minha neta, como minha mãe conversava com minha filha, contando coisas engraçadas vividas por mim.
 A minha neta arregala os olhos, não acredita que fui capaz de tanta sacanagem e bobeiras, pois isso não condiz com o que sou hoje, diz ela.
Coitada, ela não sabe do que a avó ainda é capaz! Gostaria de relembrar para aquelas mulheres que viveram o que vivi, e pras mocinhas que não sabem do cotidiano difícil vividos por nós, que nascemos em outra época, sem o conforto de hoje.
As dificuldades não eram sentidas, pois não conhecíamos outra coisa.
Então se aprendia aquilo e pronto.  Menstruação, por exemplo, ah! era um
horror, quando a menina ficava menstruada, às vezes nem a mãe sabia,
mas ela já tinha visto ou sacado os paninhos usados pela mãe ou
pela irmã mais velha, então ela rasgava alguma roupa velha, usava dentro
da calcinha e a jogava fora. Nas famílias mais abastadas, tinham
toalhinhas que eram usadas, lavadas debaixo do chuveiro e secadas, tão
escondidas que ninguém via ou sabia da existência. das mesmas.
Menstruação era tão tabu, (sentiu a palavra?), que ninguém comentava o
assunto. No interior ela tinha vários nomes: boi, aqueles dias, regra, chico, etc.
Boi, eu acho que é porque sangrava como boi no corte; aqueles dias,
porque era difícil de agüentar, e regra, acho que era porque, querendo ou
não, tinha que passar todo mês.
As amigas íntimas sabiam e guardavam segredo uma das outras. Os meninos, não tinham nem idéia do que se passava com as meninas. Creio que muitos homens nem sabiam dessa intimidade das
mulheres, só iam saber quando casados, pois aí sim, se ela faltava, era
gravidez. Ninguém sabia que se faltasse podia ser algo grave, como
anemia, problemas hormonais ou gravidez por descuido. Ninguém sabia,
nem tinha o que ler sobre o assunto, então as historias
eram fantasiosas: nesses dias não se podia lavar o cabelo, nem comer
repolho, carne de porco, chupar manga, limão ou abacaxi, pois isto faria
descer mais sangue e faria dar mau cheiro. A calcinha era reforçada no fundo, para não vazar, e ela era feita com botões dos lados, para modelar o corpo. O tecido era branco e bem forte, como o algodão cru, e o pior é que como na menstruação costuma inchar a barriga, então imagina a arrasadeira, a barriga torando, e ainda ter que carregar aquele tufo ensangüentado.
Lá na minha terra tinha uma brincadeira cruel na escola, que era chegar
perto de alguém que não era amiga e se descobrisse que ela estava
naqueles dias, começávamos a cantar: “Ham! Ham! Quiá! Quiá! Quiá boi! Ham! Ham! Quiá! Quiá boi!” Esse canto era a forma dos vaqueiros guiar o boi no pasto, mas para sacanagem, era a forma que se achava para apontar quem estava menstruada. Era feita uma investigação profunda pelas fofoqueiras de plantão, e quem quisesse poderia sacanear um desafeto na saída da escola.
Certa feita, uma garota muito tímida e sem-vergonha, estava se insinuando para um namorado meu, e eu não deixei barato, procurei saber
o dia das regras dela e quando a pobre ia embora, depois das aulas, com
todos juntos numa mesma direção, seguindo para a praça principal, eu e
duas amigas ficamos atrás da mesma e começamos: ““Ham! Ham! Quiá! Quiá! Quiá boi! Quiá! Quiá! Quiá boi! A pobre abraçada aos livros, seguia firme, até que o pior aconteceu, aquele rapaz veio ao encontro dela e eu e minhas amigas despistamos, e continuamos. Ao invés das três cantarem, uma cantava; “Ham! Ham!;  a outra: Quiá! Quiá!, e eu, bem forte: BÔÔI!
A menina, vermelha como um pimentão, os olhos lacrimejando, desviou do
rapaz e nesse dia não teve paquera. Me senti vingada.
Hoje, conto isso envergonhada da puta sacanagem que aprontei. Mas que
foi engraçado, lá isso foi !


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