sexta-feira, 8 de maio de 2015

A arvore de algodão

                                           A arvore de algodão

Quando criança, morando em Governador Valadares, o meu Natal era especial!
Durante todo o mês nas Rádios Educadora e  Por Um Mundo Melhor, só tocavam canções Natalinas, o tempo todo...
“Querido Papai Noel vou fazer o meu pedido para o dia de Natal, uma boneca bem grande, se for pequena não faz mal...”
Meu Pai podia estar no fim do mundo, mas pro Natal ele chegava.Lá em nossa casa, a arvore só era montada  no dia que ele entrava pela porta a dentro, podia ser com uma semana de antecedência,  na véspera, ou até no dia. Já aconteceu um dia de ele chegar depois do almoço, aí foi aquela correria...
A casa entrava em festa, logo na sala, ao lado da TV em preto e branco, começavam a brilhar as bolinhas coloridas em um galho coberto de algodão .
Na minha casa de lá nunca teve arvore tipo pinheiro, pois meu pai explicava que lá não sei onde, a neve não deixava ver a cor das arvores e como neve é branca, toma algodão. Lembro que eu e uns amigos encapetados, saíamos a noite pra ver as arvores das casas mais chiques, das ruas próximas lá de casa. As portas ficavam abertas e o nosso olhar cumprido nem piscava, tinha umas com pisca-pisca, outras de bolas grandes coloridas, outras toda brancas....
 Teve uma vez que tinha uma árvore tão linda, numa casa lá perto do Hospital São Lucas, que paramos, ficamos lá rindo, conversando e fazendo planos com os presentes enormes que tinham debaixo dela como se  fossem pra nós, quando a dona da casa chegou, deu um raspa daqui e bateu a porta em nossa cara, não pensamos duas vezes, buscamos umas pedras ali por perto e cada um jogou a sua, deram sorte que a porta não era de vidro, senão...
Na manhã de Natal tinha a missa  lá na  Catedral e depois, quando chegávamos em casa os  presentes já debaixo da arvore podiam ser abertos. Depois eu ficava  na calçada de casa  exibindo, o presente de Natal, um só, e era aproveitado e cuidado o ano inteiro. Na nossa casa sempre tinham brinquedos da Estrela que eram os melhores, bonecas, joguinhos de casa, bicicleta, só não gostei do dia que eu ganhei uma acordeon.
Era uma acordeon de 120 baixos, dentro de uma caixa preta e por dentro forrada de vermelho, ela era vermelha cintilante e linda. Quando minha Mãe e meu Pai me mandaram sentar, fechar os olhos e colocaram aquele trambolho no meu colo, ai eu confesso, fiquei revoltada, como eu ia sentar na calçada com um negocio daquele tamanho e que eu não conseguia tocar nada ...
Por uns dois meses, meu pai tentou me fazer apreciar e ter vontade de aprender a tocar. Como não teve jeito, acabou vendendo para o dono de uma “venda” lá do mercado.
Há muitos anos, tenho árvores que parecem pinheiro, além de já ter tido de vários tamanhos,  troco os enfeites e  as luzes pra ficarem mais bonitas!
A noite, em vez do peru assado com arroz, farofa e  vinho Sangue de Boi, temos uma ceia com tudo que se tem direito, o apetite não dá conta de comer tanta variedade de assados,  frutas, castanhas e sobremesas, as bebidas de tudo quanto é jeito, vários  presentes que os meninos ate enjoam de tanto abrir...
E no dia seguinte, depois de colocar a casa em ordem, jogar no lixo um monte de papel de presente rasgado, espero os filhos, os netos e agora o bisneto tomar rumo e  começo a lembrar do único presente que ganhei e não quis ficar...

Eu bem que podia ter aprendido a tocar, por que agora e em paz, eu poderia agradecer, tocando, lembrando meu Pai, minha Mãe e minha árvore de algodão!

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