Como
aprendi a ver a vida
Quando tinha catorze anos, me mudei pra Itaobim, já tinha
alguns amigos "lá do outro lado", que conheci durante as ferias, e
como todos dali íamos pegar "picula" no córrego São João, 'redar' ,
descer nos pés de banana, aprender a fumar ...Assim eu comecei a ver a vida,
aprender a me virar e a sonhar !
Quase sempre, quando passava pra ir pro córrego, ou de lá
voltava, tinha uma "casinha de enchimento", que morava uma casal e varias crianças,
a mulher quase sempre estava grávida, os meninos pelados ou de calção ou
calçinhas, correndo em torno da casa, atrás das galinhas, do vira-lata ou dos
porcos, o marido, esse era especial, vinha de cocava na porta da cozinha, sem
camisa com uma calça marrada com "embira", ela trazia um copo de
alumínio com água, tirada do pote, que estava coberto com um pano bem alvinho,
ele então dava um sorriso banguela e saia com a enxada nas costas, lá
continuava ela nos seus afazeres .
Um dia pedi água e pedi pra entrar e ver a
casa , era toda branquinha, pois era limpa com "picumã", na sala
tinha um banco e o pote sempre coberto, na cozinha o fogão de barro e latinhas
de sardinha e goiabas bem areadas penduradas na parede que eram reaproveitadas
pra enfeitar e pra comer, as panelas de barro e a prateleira forrada com papel
de embrulho picotado nas pontas, o quarto tinha uma cama de varas e um colchão
de "paina", umas duas mudas de roupas penduradas e era só !Adorei
aquilo ali e com marido e tudo, se tornou meu sonho de futuro e por muitos anos
na vida, quis aquilo pra mim, os meninos correndo, aquela casinha ...
Agora anos depois, estou aqui em casa,
ouvindo Roberto Carlos cantar Eu te amo, eu te amo, eu te amo, o Rei continua o
mesmo, embalou, meus pais com essa musica e hoje eles a curtem no céu.
E agora aqui em BH num apto de oitavo
andar, nas minhas panelas de barro cozinho um tatu, tomo uma pinga pra
comemorar o dia, que já começou com uma chuvinha boa de ficar na cama, com o
"Cara" da musica do Rei me trazendo um café na cama, bem da roça, que
era bata- doce cozida, ovo cozido, pão com queijo quente, café com adoçante que
já não tenho mais catorze anos, e eu pergunto, como não ser feliz?
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