sexta-feira, 8 de maio de 2015

Como aprendi a ver a vida

                                        Como aprendi a ver a vida

Quando tinha catorze anos, me mudei pra Itaobim, já tinha alguns amigos "lá do outro lado", que conheci durante as ferias, e como todos dali íamos pegar "picula" no córrego São João, 'redar' , descer nos pés de banana, aprender a fumar ...Assim eu comecei a ver a vida, aprender a me virar e a sonhar !
Quase sempre, quando passava pra ir pro córrego, ou de lá voltava, tinha uma "casinha de enchimento", que morava uma casal e varias crianças, a mulher quase sempre estava grávida, os meninos pelados ou de calção ou calçinhas, correndo em torno da casa, atrás das galinhas, do vira-lata ou dos porcos, o marido, esse era especial, vinha de cocava na porta da cozinha, sem camisa com uma calça marrada com "embira", ela trazia um copo de alumínio com água, tirada do pote, que estava coberto com um pano bem alvinho, ele então dava um sorriso banguela e saia com a enxada nas costas, lá continuava ela nos seus afazeres .
Um dia pedi água e pedi pra entrar e ver a casa , era toda branquinha, pois era limpa com "picumã", na sala tinha um banco e o pote sempre coberto, na cozinha o fogão de barro e latinhas de sardinha e goiabas bem areadas penduradas na parede que eram reaproveitadas pra enfeitar e pra comer, as panelas de barro e a prateleira forrada com papel de embrulho picotado nas pontas, o quarto tinha uma cama de varas e um colchão de "paina", umas duas mudas de roupas penduradas e era só !Adorei aquilo ali e com marido e tudo, se tornou meu sonho de futuro e por muitos anos na vida, quis aquilo pra mim, os meninos correndo, aquela casinha ...
Agora anos depois, estou aqui em casa, ouvindo Roberto Carlos cantar Eu te amo, eu te amo, eu te amo, o Rei continua o mesmo, embalou, meus pais com essa musica e hoje eles a curtem no céu.
E agora aqui em BH num apto de oitavo andar, nas minhas panelas de barro cozinho um tatu, tomo uma pinga pra comemorar o dia, que já começou com uma chuvinha boa de ficar na cama, com o "Cara" da musica do Rei me trazendo um café na cama, bem da roça, que era bata- doce cozida, ovo cozido, pão com queijo quente, café com adoçante que já não tenho mais catorze anos, e eu pergunto, como não ser feliz?

Nenhum comentário:

Postar um comentário