sexta-feira, 8 de maio de 2015

Retirantes

                                                        Retirantes

Eu na casa da minha nora e ela contando da família da moça que trabalha pra ela e que veio do norte de minas, se la tem pouca coisa imagina na roça há duas horas e meia da rodagem!
Lá os meninos não usavam banheiro e sim o mato, não tinham chuveiro e sim o rio ou a bacia, as roupas lavadas quaravam nas pedras para ficarem alvas, e a casa  era só varrer e molhar o chão pra assentar a poeira .Carne só de caça ou peixes redados, pescados e  de vez em quando sobrava dinheiro e da cidade o pai traz um pedacinho de carne de boi, verduras só as que nascem por ali , maxixe, maxixe fofo, abobora, quiabo, mandioca, frutas só de época, melancia, mamão, coco, araçá,  cana, goiaba,  siriguela, jaca, tamarindo, laranja, manga, jambo, jenipapo e as hortaliças como couve,  coentro, cebolinha verde, alface ...
A vida passava devagar e assim os meninos viam carros poucas vezes, quando alguém se aventurava a ir por lá o pai chegou perto de um  depois catorze pra quinze anos, a mãe só foi conhecer  numa época de campanha, em  que um candidato chegou por lá pra pedir voto, uma coisa que ninguém sabia o que era .
Os pais são analfabetos e os meninos que são quatro, com idade variando de nove  a  treze ainda não sabem escrever nem ler direito.
A mãe, depois da primeira filha, que hoje tem vinte e seis anos  deu uma parada, ai veio essa meninada, fora os que perdeu antes do tempo.
A viajem pra cá sem piscar o olho um segundo durou treze horas,  como a lua estava cheia, nem mesmo o ônibus lotado, o banheiro que ardia o nariz de tanto fedor de urina, nada disso apagou a alegria da aventura de ver passar  os matos, as arvores e as  luzes das casas nas cidades iluminadas.
Estão meio apavorados, pois segundo  uma vizinha que também se aventurou por São Paulo e voltou pro sossego de lá, na capital  as pessoas vivem presas em casas e  caem morta na luz do dia, por balas que vem não sei de onde, capital é um perigo só!
Como brasileiro tem coragem, fé e não desiste nunca, cá estão eles, andam todos de braços dados com a que já mora aqui, olha pra cima o tempo todo e ficam tontos só de ver as alturas dos prédios, não querem nem saber de subir em nenhum, falta coragem e pra atravessar as ruas todos gesticulam e gritam uns com outros, palavras que quem esta do lado não entende, estão espremidos na casa da filha que tem cinco meninos e o marido e lá são dois cômodos, as poucas coisa que trouxeram cabem em oito sacolas de supermercado, já que as panelas de barro e as camas de varas, aqui não teriam serventia.
O pai, alem de plantar diz saber fazer casas, só que de enchimento, não dessas dos andaimes, a mulher sabe lavar roupas no rio e fazer de “ cume “!
Dou um ano, pra estarem todos tocando a vida já em sua casinha, mesmo que em um bairro distante, os meninos desinibidos com seus tênis coloridos correndo pelo parque municipal , brincando de escorregar, querendo pegar os pombos, jogar farelos de pão pros peixes e sonhar...

 Um dia um deles já adulto com a vida estabilizada pelo estudo e trabalho ,vai ouvir uma estória  assim e talvez vai colocar no papel como estou fazendo agora, vai estar tão distante daquela realidade, mas sabe que assim é a vida real de muita gente que ainda esta lá e um dia quem sabe, chega por aqui !

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